Trigo - Descrente com Argentina, Abitrigo avalia outros fornecedores
Data:
10/01/2008
A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) avalia que o Brasil terá que importar este ano um volume maior do cereal no mercado mundial por estar com dificuldades de realizar as tradicionais compras junto ao seu principal fornecedor, a Argentina, que está restringindo as exportações. Depois de conceder registros para exportações de cerca de 7 milhões de toneladas do cereal para todos os seus clientes, o governo argentino suspendeu as vendas externas do produto, para garantir a oferta interna e controlar a inflação. O problema da indústria brasileira é que o Brasil só conseguiu registros para 3 milhões de toneladas (do total registrado), volume que será embarcado até meados de fevereiro. E, avaliando a oferta na Argentina, a Abitrigo não crê que o seu fornecedor preferencial reabra as vendas. "No curto período que abriram exportação entre novembro e dezembro, venderam 7,4 milhões, está sobrando 1,1 milhão (para exportar)... Se a Argentina não abrir registros, e não vai abrir, porque só tem 1,1 milhão, o Brasil vai ter que buscar em outro lugar", afirmou à Reuters o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, Luiz Martins. O volume de 1,1 milhão de toneladas citado por Martins é a diferença entre um saldo exportável de 8,5 milhões de toneladas e o total já comprometido para vendas externas. Com um consumo anual de 10,5 milhões de toneladas, o Brasil precisaria buscar, segundo Martins, mais 4,5 milhões de toneladas em outros mercados que não a Argentina para satisfazer suas necessidades, na hipótese de o governo argentino não mais reabrir as exportações quando acabarem os estoques formados com as últimas importações da Argentina. O Brasil já tem compradas junto à Argentina 3 milhões de toneladas, e nos últimos anos tem contado com uma oferta interna, produzida localmente, de 3 milhões de toneladas. "E vai ficar nisso aí, paciência, e o Brasil não tem trigo suficiente, está faltando 4,5 milhões, vai ter que buscar em outras origens." Entre janeiro e novembro de 2007, segundo dados oficiais, o Brasil importou 6,1 milhões de toneladas de trigo, sendo 5,2 milhões na Argentina e o restante nos Estados Unidos (354 mil toneladas), Canadá (327 mil toneladas), no Uruguai e Paraguai. Com as restrições argentinas, o volume importado de outros países, como EUA e Canadá, poderia subir consideravelmente. Para facilitar essas compras, entretanto, a indústria espera que o governo brasileiro atenda finalmente a uma antiga reivindicação. A Abitrigo quer que o Brasil zere a tarifa de 10 por cento aplicada sobre importações fora do Mercosul, até para que os custos adicionais não sejam repassados à farinha. Traders divergem: Uma fonte de uma trading internacional concorda com a avaliação da Abitrigo. "É mais ou menos isso, a Argentina vendeu muito para outros mercados que não o Brasil", explicou. Diante do sistema tributário que estimula exportações de produtos processados na Argentina, o trader comentou que não há indicações de que o país reabrirá as exportações. E acrescentou que o vizinho tentaria ampliar as vendas de farinha ao Brasil, que dobraram para cerca de 600 mil toneladas em 2007. Já o diretor da importadora Cotrex, Nelson Montagna, acredita que a Argentina voltará a dar registros, até porque entre estoques e sobra da safra não comprometida com vendas o país teria uma oferta de 4 milhões de toneladas, disse ele. Os registros serão reabertos porque os argentinos têm produto e querem aproveitar a alta dos preços, segundo Montagna. O Brasil, assim, realizaria novas compras, e completaria suas necessidades nos EUA e Canadá, como sempre. Para Montagna, na hipótese de os registros argentinos não serem reabertos, o que ele descarta, o Brasil importaria de outros mercados cerca de 2 milhões de toneladas, para atender às necessidades em maio, junho, julho, agosto e setembro, até a entrada da safra nacional.