Soja - Soja está se tornando o mais promissor grão flex
Data:
14/01/2008
Produto carrega a dupla capacidade de saciar a crescente fome da humanidade por comida e por energia. Cresce neste momento em 3,8 milhões de hectares de campos no Rio Grande do Sul um grão dourado que, graças a uma revolução de escala planetária, é tão ou mais valioso que o ouro. Sem considerar os recordes destes primeiros dias de janeiro – em que as cotações na Bolsa de Chicago, referência internacional, chegaram a inéditos US$ 13,41 – , o preço médio da soja subiu 46% entre 2006 e 2007, mais que as médias do petróleo (7,2%) e do ouro (15%), em igual período. Em todo o mundo, a soja lustrou seu brilho desde que passou a carregar a dupla capacidade de saciar a crescente fome da humanidade por comida e por energia, tornando-se o mais promissor grão flex. Quem acompanha cada ponto dos gráficos desenhados pelos preços da soja na última década não tem dúvidas de que avança em passadas largas uma mudança estrutural: quando um evento ou, mais realisticamente, a combinação deles, provoca alterações tão contundentes tornando praticamente impossível voltar à situação anterior. Especialistas avaliam ser exatamente isso que está ocorrendo com a cultura de soja e empilham argumentos encorajadores dessa tese. – Estamos virando uma página da história – afirma o consultor Antonio Sartori, da Brasoja, ancorado, sobretudo, na força dos cerca de US$ 23 trilhões dos fundos internacionais que procuram investimentos num mundo em que a palavra-chave é energia. – Os estoques de grãos estão baixos, e não há sinais de que a luta entre alimentos e biocombustíveis vá arrefecer nos próximos anos – reforça Farias Toigo, da Capital Corretora. Há quem considere episódica a disparada dos preços em Chicago na semana passada. Lembram que, desde 1973, por três ocasiões, a cotação superou os US$ 10,50, mas não se sustentou. Ponderam ser preciso contabilizar a atuação dos especuladores tumultuando o mercado. Por último, alertam que a China pretende reduzir sua velocidade de crescimento acentuando os efeitos negativos da crise nos EUA, cujo prolongamento poderá interromper o ciclo de cinco anos de expansão da economia mundial. Mesmo assim, não acreditam que os preços recuarão aos níveis anteriores: – Poderá ocorrer acomodação em torno das médias históricas – diz Argemiro Brum, da Unijuí e analista da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos Agropecuários. O crescimento do consumo de grãos, liderado pela soja, provoca reações opostas, de otimismo, para os produtores, e de preocupação, para a parte mais pobre da humanidade. Em dezembro, a revista The Economist publicou o artigo O fim da comida barata em que aponta crescimento de 75% nos preços dos alimentos no mundo desde 2005. O consultor Fernando Muraro, da AgRural, observa que, nos últimos 10 anos, 300 milhões de chineses - um Estados Unidos inteiro - galgaram um degrau na pirâmide social, passando a comer mais. Segundo Muraro, a alta dos preços tem a dupla função de estimular a expansão da área plantada e de conter a demanda. Pelo menos em relação ao consumo, não está surtindo efeito. Esse é uma oportunidade para o Brasil, que deve se tornar, em 10 anos, o maior produtor mundial. Pioneiros no cultivo de soja, os gaúchos sabem que, quando a agricultura vai bem, tudo o mais também. Dois anos de frustrações na lavoura fizeram a economia recuar 2,7% em 2006. No ano passado, a safra histórica contribuiu para o avanço de 7% do Produto Interno Bruto, sem surpreender Sartori: – A tendência dos preços no começo do ano antecipava esse resultado. As vantagens da safra passada, porém, não foram totalmente aproveitadas pelos produtores gaúchos por causa do câmbio desfavorável e porque os preços aumentaram o ritmo de alta quando a maior parte da produção já estava vendida, explica Brum. Com a colheita 2007/2008, a situação é diferente. Os agricultores venderam até agora cerca de 20% do total, menos do que os demais Estados produtores. Falta de nuvens no horizonte é o maior risco para o agricultor Além disso, a demanda do milho, também aquecida por causa do etanol norte-americano, criou o que se chama de problema do bem para os gaúchos. Brum diz que a dúvida na época do plantio era escolher entre dois dos grãos mais valorizados no mundo. O maior risco para as lavouras gaúchas é a falta de nuvens no horizonte. Chuvas em janeiro e fevereiro são imprescindíveis para o grão. Produtores torcem para os meteorologistas estarem errados ao alertar para a possibilidade de o La Niña, fenômeno climático que eleva a temperatura e reduz o volume de chuvas, afetar o Estado. Como o secretário extraordinário de Irrigação, Rogério Porto, informa que a última grande obra para melhorar a irrigação no Rio Grande do Sul foi executada há 25 anos, é bom que os gaúchos tenham sorte em sua torcida.