Após anos de rivalidade entre produtores e moinhos , a indústria firmou um acordo com os produtores em que se compromete adquirir 50% da próxima SAFRA de trigo. Exigem porém que os agricultores cultivem sementes de boa qualidade que serão parcialmente financiadas pelos moinhos. Embora faça parte da alimentação básica do brasileiro e movimente cerca de US$ 1,95 bilhão por ano, o trigo sempre foi produto de baixa liquidez. Muitas vezes, os produtores foram obrigados a negociar a produção em troca de insumos. Os moinhos preferiam comprar trigo argentino. Mas o cenário mudou e o produto acabou ficando escasso no mundo inteiro. Nos últimos anos, a cultura perdeu espaço principalmente para o milho safrinha devido aos custos elevados de produção. "Enquanto o trigo precisa de 160 kg de sementes para plantar um hectare, o milho precisa de apenas 20 kg", explica Armando Portas, diretor da área de produção de sementes e mudas da Secretaria de AGRICULTURA de São Paulo. Atualmente, o estado é o terceiro maior produtor da commodity, atrás do Paraná e Rio Grande do Sul. De acordo com um estudo da Embrapa-Trigo, São Paulo dispõem de cerca de 400 mil hectares aptos à produção da cultura. Entretanto, na SAFRA passada, São Paulo ocupou 60 mil hectares com a cultura, com uma produtividade média de 3 mil quilos por hectare. "O projeto do governo e dos moinhos deve estimular os agricultores a pelo menos fazer uma rotação de culturas", prevê Portas. Para a SAFRA de 2008/09, a expectativa é de pelo menos dobrar a área plantada. João Girghi Neto, diretor e sócio da Fazenda Águas Claras, não acredita que a área possa dobrar. Para ele, o projeto é vago e só está no papel. "Seria interessante estimular o agricultor através da compra antecipada da SAFRA. Mas o produtor precisa de preço bom e capital para investimento". Ele acredita que a área possa aumentar entre 20% ou 30%. Diz que outros projetos semelhantes foram apresentados e não funcionaram. Para Cássio Luiz Cruz de Camargo, secretário executivo da Associação Paulista dos Produtores de Sementes, a proposta patrocinada pela Secretaria da AGRICULTURA de São Paulo apresenta algumas características inadequadas. Como as sementes distribuídas para os produtores foram desenvolvidas com dinheiro público, não poderia beneficiar apenas os signatários desse acordo, que são do setor privado, uma vez que utiliza toda estrutura e mão de obra do poder público. "A atividade de comercializar e produzir sementes não é função do Estado. Por não possuir custos de produção, ele pode ofertar as sementes a um preço mais baixo".