A falta de trigo no mercado nacional e a negativa – ao menos temporária – da Câmara de Comércio Exterior em liberar a TEC (tarifa externa comum) de 10% cobrada sobre importações feitas de países alheios ao Mercosul farão com que o pãozinho, o macarrão, bolachas e demais derivados do grão fiquem 16% mais caros ao consumidor.
Conforme a Abitrigo (Associação Brasileira das Indústrias do Trigo), a demanda estimada para o cereal é de 9,3 milhões de toneladas neste ano. A produção nacional foi de 3,8 milhões de toneladas, da safra iniciada em agosto – volume completamente vendido. De maneira geral, a entidade estima que seja necessária, ainda neste ano, a compra de 4,2 milhões de toneladas.
Em 2007 No ano passado, a Argentina, fornecedor de mais da metade do trigo moído no País, fechou seus portos para a exportação. Por se tratar de uma nação pertencente ao Mercosul, o produto não sofria essa incidência da TEC.
E como resultado, de janeiro a dezembro, no âmbito do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o pão francês teve encarecimento de 7,93%, o macarrão, de 7,58%, e o biscoito, de 5,20%. Os três foram citados no documento de divulgação do estudo como destaques do período.
Dois milhões de toneladas Nesta semana, o país vizinho anunciou extra-oficialmente que venderia, neste ano, dois milhões de toneladas ao mercado externo. Na quarta, oficialmente, foi informado que seriam 450 mil toneladas por mês, mas a quantidade de meses não foi detalhada. "Não sabemos por quanto tempo esse total será vendido nem se virá completamente para o Brasil", afirmou Luiz Martins, presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo.
Conforme Martins, a Camex deve analisar esse informativo da Argentina e verificar os impactos do preço do cereal no Brasil. Dessa maneira, pode sair a qualquer momento uma nova decisão sobre a TEC, mesmo sem a convocação da reunião mensal da câmara. "O Brasil precisa importar cerca de 60% de seu consumo. Se o produto não vem da Argentina, vem do Canadá ou Estados Unidos", finalizou.
Previsões da associação apontam que a liberação argentina deve ocorrer apenas em 1º de março, sendo que, se for direcionado ao Brasil, o produto estará disponível um mês depois. "O Brasil tem capacidade de moer 800 mil toneladas por mês. Mesmo que toda a exportação argentina venha para cá, ainda faltará quase a metade do total", finalizou Martins.