Se depender dos estoques do governo, o arrozeiro gaúcho não terá onde colocar o produto da SAFRA 2007/08. Isso porque são cerca de 1,5 milhão de toneladas públicas e privadas ocupando os armazéns do estado e de Santa Catarina. A COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) chegou até a ofertar parte desses estoques, mas pouco diante do tamanho do problema. Foram ofertadas 107,1 mil toneladas e comercializadas 78,1 mil toneladas. "O resultado é considerado excelente. Mas como o estoque do governo está atrapalhando a capacidade de armazenagem, pode pressionar o mercado", afirma Paulo Morceli, superintendente de Gestão de Oferta da CONAB. Segundo ele, boa parte do produto ofertado era de SAFRA velha, por isso o resultado é considerado satisfatório. No entanto, de acordo com Morceli, se os estoques vierem a atrapalhar a comercialização da próxima SAFRA, o governo está preparado para intervir. Estão previstos no orçamento R$ 300 milhões para contratos de opção e Aquisições do Governo Federal (AGFs) e outros R$ 400 milhões para Empréstimos do Governo Federal (EGFs). Uma alternativa encontrada pela CONAB para diminuir o espaço ocupado pelos estoques públicos nos armazéns foi mudar os intervalos de classificação de qualidade, que eram seis e passaram para três. Com isso, de acordo com o superintendente, os armazéns estão autorizados a misturar produtos de uma mesma SAFRA, diminuindo o espaço ocupado. Outra opção seria o deslocamento do grão para outros estados - por meio de Valor de Escoamento de Produto (VEP), uma espécie de subvenção. No entanto, de acordo com Morceli, no final do ano passado os estados que receberiam o cereal vetaram a alternativa, pois poderia prejudicar a produção local e, agora, com a entrada da SAFRA é mais temerário ainda, pois poderia derrubar os preços. "A armazenagem é um problema a ser resolvido. Claro, as indústrias investiram em equipamentos, mas sempre há pressão de espaço. E a alternativa, para alguns, é o silo-bolsa", afirma Carlos Cogo, diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica. Na sua avaliação, o resultado é que o governo terá de intervir durante a SAFRA. Opinião semelhante tem Élcio Bento, analista da SAFRAS & Mercado. "Era preciso vender para se conseguir espaço. Agora a situação fica complicada". Para Camilo Oliveira, assessor do Departamento Comercial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), a não-compra dos estoques é um sinal de que as indústrias estão abastecidas. Apesar das vendas do governo, o preço do grão continua estável, em cerca de R$ 25,60 a saca (50 quilos).Até o momento, nem 5% do cereal no Rio Grande do Sul foi colhido.