Para produtores, medida é manobra do Brasil para tentar baixar preços Os argentinos consideraram uma manobra política a decisão do Brasil de zerar a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para a importação de 1 milhão de toneladas de trigo de países fora do Mercosul. "É uma medida política para derrubar nossos preços, mas o trigo argentino já é o mais barato do mundo, e eu quero ver o Brasil conseguir outro tão acessível", disse o tesoureiro da Associação Argentina Pró-Trigo, Raúl Maestre. Segundo ele, ontem, a cotação do trigo argentino era de US$ 370 a tonelada FOB, enquanto o americano estava em US$ 420 a tonelada. "Não há trigo agora para o Brasil em outro lado porque os Estados Unidos só vão fazer o grosso da colheita em junho." Ainda de acordo com Maestre, o único trigo mais barato que o argentino é o soft americano. "De qualidade inferior, que custa US$ 370, mas a esse valor é preciso agregar o frete dos EUA até aqui." Para ele, o Brasil deveria ter comprado trigo argentino "quando teve oportunidade, durante a reabertura dos registros", em novembro do ano passado. Naquele mês, em apenas três semanas os exportadores venderam 7 milhões de toneladas de trigo. Do total, o Brasil assegurou 3 milhões. As 4 milhões de toneladas restantes serão enviadas a países como Índia, Egito e Paquistão. "A tartaruga escapou das mãos do Brasil", disse Maestre, em tom irônico. Para o tesoureiro da Associação Argentina Pró-Trigo, essa "lerdeza" teve o claro objetivo dos brasileiros de não convalidar o preço do trigo argentino. "É um sinal político de que há pessoas no Brasil que não se interessam pelo Mercosul." Ontem o governo argentino garantiu ao Brasil que poderá fornecer 3 milhões de toneladas de trigo para o primeiro semestre deste ano. O anúncio foi feito em Buenos Aires pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, que se reuniu com representantes do governo argentino durante encontro da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral, que também discutiu o regime automotivo. Em março, uma reunião no Brasil vai analisar o assunto. Ramalho disse que o governo brasileiro pediu à Argentina regularidade no envio do trigo. Segundo ele, no ano passado ocorreram interrupções nas exportações, o que "provocou instabilidades", especialmente nos preços no Brasil. Além das 3 milhões de toneladas prometidas para o primeiro semestre, Ramalho disse que "existe a possibilidade" de que a Argentina possa atender às expectativas brasileiras no resto do ano. Só em janeiro já entraram 800 mil toneladas de trigo argentino no País.