O governo não fará leilões de equalização de preço para a soja nesta SAFRA. O motivo é o preço alto da commodity no mercado físico. Somente algodão e arroz estão passíveis de receber apoio neste ciclo, avisou José Maria dos Anjos, diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento Agrícola e Pecuário (Deagro) do Ministério da AGRICULTURA, Pecuária e Abastecimento. O argumento do campo, sobretudo em Mato Grosso, é o de que grande parte da SAFRA deste Estado foi comercializada antecipadamente a valores abaixo do preço de referência do governo - R$ 22,50 a saca (60 quilos). Com o câmbio atual (R$ 1,75), entram nesta faixa agricultores que venderam abaixo de US$ 12, segundo Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), o equivalente a 43% da SAFRA mato-grossense (6,8 milhões de toneladas). Atualmente, a saca está valendo US$ 21 (média do Estado). "Mas, há ainda parte da SAFRA que não foi comprometida e esse volume será vendido nos valores atuais, que estão muito elevados", rebate dos Anjos. Ele acrescenta que apesar de o câmbio ter recuado no período entre o plantio e a colheita, o produtor tinha a opção de fixar os insumos junto com o preço da soja na época, o que anula o efeito cambial. Outro argumento do governo é de que é difícil conseguir selecionar de todo o universo de produtores aqueles que realmente precisam da ajuda. "Eles dizem que podem apresentar contrato das vendas, mas operacionalmente, é difícil checar isso", afirma o diretor do ministério. Silveira, da Aprosoja, afirma que há casos de produtores em que a rentabilidade é zero e que essa equalização ajudaria a renda do campo. "Estamos sendo cobrados a pagar dívidas de investimento. As produtividades estão 5% abaixo do esperado", explica. Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres, avalia que o produtor que vendeu a US$ 13 a saca não fez o melhor negócio, uma vez que os preços agora estão muito mais elevados. "Se for calcular pelo valor mínimo vendido, de fato, o produtor perdeu dinheiro. Mas procede a avaliação de que há produção não comprometida que será comercializada aos valores atuais e que possibilitará um caixa ao produtor", conclui Galvão. O diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, diz que até agora não houve nenhum caso relatado de descumprimento de contratos de entrega de soja e que o setor vai continuar pressionando o governo para que realize os leilões de equalização. A preocupação de quebras de contrato por parte dos produtores fez com que a cadeia do algodão criasse este ano um conselho de ética para arbitrar esses casos, segundo Mendes, que também é diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). "Tivemos alguns casos pontuais em SAFRAS anteriores", justifica Mendes.