Arroz - Nova classificação do arroz inviabiliza produção no Estado de MT, alerta liderança de Sinop
Data:
26/02/2008
A nova classificação para os padrões do arroz em casca poderá inviabilizar a produção do cereal em Mato Grosso. O alerta foi feito ontem pelo presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, que aponta discrepâncias na iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que estipulou o próximo dia 31 de março como prazo máximo para a realização de consultas e apresentação de sugestões para a mudança. Galvan entende que uma nova classificação vai criar dificuldades ainda maiores aos produtores, que viveram problemas com o veranico no período da safra. “O setor está muito preocupado, pois o arroz é uma cultura de risco muito alto. Se colocarem mais obstáculos, a atividade se tornará inviável”. Segundo ele, o Mapa quer mudar as normativas em relação à questão dos descontos adotados conforme a qualidade do arroz. Defeitos, picada de insetos e arroz amarelado, por exemplo, podem gerar descontos na classificação do produto da lavoura ao armazém e que vão depreciar o valor pago ao produtor. Galvan diz que se o arroz não está apresentando problema nenhum para consumo, “não haveria razão para aumentar os descontos”. A classificação do arroz se dá pela quantidade de grãos quebrados que ele apresenta. O tipo 1 pode ter no máximo 10% de grãos quebrados. O que o Mapa propõe é que o tipo 1 só tenha até 4% de grãos quebrados. “Significa que o arroz tipo 1, o agulhinha produzido em Mato Grosso hoje, se transformaria em tipo 2 ou 3”, alertam os produtores. Para Antônio Galvan, uma nova classificação vai afetar produtores de todo o Estado e desestimular ainda mais a rizicultura em Mato Grosso. "Perdemos mercado, pela questão da logística, por causa da entrada de arroz importado e do baixo preço do arroz gaúcho. Se colocarem mais barreiras em nossos produtos ficaremos sem mercado. Vamos ter que abandonar a atividade”. João Eduardo Cerquetti, produtor na região de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), também acha que a nova classificação vai ser prejudicial ao setor. "O arroz produzido em Mato Grosso vai cair de tipo 1 para tipo 2. Para nós, que já chegamos a ocupar a segunda colocação no ranking de produção no país, este será mais um golpe", frisou. Segundo ele, a mudança de classificação do arroz produzido no país só atingirá estados que compõem a fronteira agrícola, como Mato Grosso. “Pelas dimensões do país e diversidades socioeconômicas e culturais, é importante que se evite o estabelecimento de padrões de classificação cujos parâmetros sejam estabelecidos a partir de mercados mais sofisticados ou de preferências regionais”, frisou. PRODUÇÃO Os novos padrões de classificação podem tornar mais desvalorizada a produção de Mato Grosso, que este ano deverá apresentar nova queda. A expectativa da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), segundo Antônio Galvan, é de uma safra de 700 mil toneladas, para uma área plantada de 250 mil hectares. “Nós, entretanto, não acreditamos que a área passará de 200 mil hectares e a produção não chegará a 600 mil toneladas”. As variedades que mais se destacaram nesta safra em Mato Grosso foram o Primavera, Cirad Cambará, Sertanejo e Ipê, com maior destaque para o primeiro. Mato Grosso já chegou a ocupar a segunda colocação no ranking dos produtores, com área plantada de 750 mil hectares e produção de dois milhões de toneladas, como foi na temporada 03/04 e 04/05. Atualmente, de acordo com o Mapa, o arroz tem seis classificações: tipos 1, 2, 3, 4, 5 e abaixo do padrão. A equipe técnica do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) simulou a classificação com uma amostra significativa da produção gaúcha na safra passada, buscando avaliar os impactos para o setor. O estudo evidenciou que a proposta é extremamente prejudicial ao setor produtivo, e que necessita de ajustes pontuais. “Os novos critérios enquadram uma situação não compatível a real qualidade do arroz gaúcho”, afirma o engenheiro do Irga, Gilberto Amato. Para o presidente do instituto, Maurício Fischer, a prorrogação do prazo para a discussão da nova classificação foi necessária já que a atual portaria tem duas décadas. “O Irga está concluindo uma análise desenvolvida no estado, com amostras de arroz em casca de todas às seis regiões arrozeiras”, justifica, ressaltando que o resultado permitirá embasar o encaminhamento de proposições. A meta do Ministério é melhorar a qualidade do produto oferecido ao consumidor, procurando reduzir as discrepâncias existentes entre a legislação e o praticado pelo mercado. Além disso, existe também a necessidade de aproximar o padrão de classificação brasileiro com o internacional. Rizicultores brasileiros se reúnem no final do mês Representantes de toda a cadeia produtiva do arroz do país estarão reunidos nos próximos dias 28 e 29, em Porto Alegre, para discutir a iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em criar um novo padrão de classificação do arroz. De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Sinop e um dos representantes de Mato Grosso na reunião, Antônio Galvan, a nova classificação proposta pelo governo federal prevê alteração no padrão e tipo do arroz em casca e beneficiado, impondo maior exigência em termos de qualidade. “Vamos levar nossa sugestão e defendê-la nesta reunião”, afirma Galvan, lembrando que a proposta de Mato Grosso é manter as normas da portaria 269 do Mapa e alterar a medida do grão para o arroz longo fino, passando de 1,90 mm para 1,95 mm na espessura. A tendência, contudo, é de que seja aprovada uma proposta única de classificação para todo o país. “Vamos tentar compatibilizar o modelo de classificação para arroz de sequeiro e irrigado”, afirmou Galvan. Para o consumidor, a reclassificação do arroz seria muito boa, pois iria melhorar a qualidade do produto que ele consome. Para o produtor a medida poderia implicar em aumento dos custos de produção com o uso de mais tecnologia. O projeto para reformular o padrão oficial de classificação do produto receberá avaliações e sugestões dos interessados até o dia 31 de março de 2008. A iniciativa do Mapa visa atender a demandas de segmentos do setor orizícola. Entre os objetivos da proposta estão avanços como a melhoria da qualidade do arroz oferecido ao consumidor e a redução das diferenças de qualidade em um mesmo tipo de arroz. Além disso, contempla novas modalidades de produtos recém-lançados no mercado e com volume significativo de comercialização, como as variedades especiais de arroz vermelho, preto, enriquecido com vitaminas ou minerais e a mistura de arroz polido e o parboilizado.