Registro - Argentina já enfrenta crise de abastecimento
Data:
13/03/2008
Consumidores reclamam da falta de produtos como óleo de soja, de lácteos, carne e até papel higiênico. A combinação de inflação, controle de preços e exportação afeta seriamente os consumidores argentinos, que sentem falta de produtos nos supermercados. Entre os produtos ausentes se destacam óleos de soja, de milho e girassol, os lácteos e cortes de carnes mais populares. "Estou farta dessa situação. A cada dez anos, assisto ao desabastecimento, que provoca mudanças nos hábitos da minha família e afetam o ritmo da nossa casa", desabafou a professora aposentada Josefina Panno. Esse tipo de reclamação é cada dia mais freqüente no país, embora os economistas afirmem que é cedo para falar de desabastecimento. "Não se pode dizer que há desabastecimento, mas escassez séria, que pode se aprofundar nas próximas semanas", disse o analista Aldo Abram, da consultoria Exante. "É incrível que na argentina, hoje, não possamos comprar óleo de soja, quando somos os maiores exportadores de soja do mundo e quando o volume de consumo doméstico é de apenas 10% do que se produz; não é nada", critica Abram. Para o consultor, a causa da escassez é o "o governo estar exigindo a venda de produtos por valores irrealistas, política que vem sendo adotada nos últimos dois anos". "É importante ressaltar que as redes de supermercados maiores têm muito menos mercadorias que os mercados chineses dos bairros", observa Josefina. Segundo ela, isso evidencia a falência dos "acordos de estabilidade de preços" entre o governo e os grandes supermercados e indústrias, tão alardeados pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno. Esses acordos, além de não garantirem os preços, fazem com que os produtos desapareçam. Nos mercados de bairros, controlados por chineses e coreanos, a falta de produtos é menos sentida, já que não assinaram acordos de preços. "Desde que começou o verão que observo a falta de produtos", comentou Josefina Panno. "Fui ao supermercado no último fim de semana e da minha lista faltaram pelo menos sete produtos", o reclamou o designer Vicente Quintana. "Não havia nenhum tipo de óleo de primeira e os que estavam disponíveis valiam o dobro do que vale o que usualmente compramos." Quintana também se queixa de não poder comprar café, leite em saquinho (mais econômico) e carne para o churrasco. Horacio Cabrera, dono de um dos salões de beleza da moda de Buenos Aires, confirma a ampliação da gama de produtos que faltam nas prateleiras. "No mês passado, vi que faltava iogurte e só havia óleo da marca do próprio supermercado. Neste mês, vi que já não havia também papel higiênico, açúcar e massa para tortas e empanadas", contou. Cabrera detalha que, no caso do açúcar e do óleo de soja, entre as marcas que haviam, a quantidade estava limitada a uma unidade por consumidor. Essa situação tende a piorar, segundo Aldo Abram. "Em alguns produtos, a Argentina poderá sofrer um desabastecimento tão cruel quanto o vivido pela Venezuela" desde o ano passado. "Para se ter uma idéia, no último ano, 40% das fazendas leiteiras foram fechadas porque o produtor lucra muito mais com qualquer outra atividade do que produzindo leite", sentenciou Abram.