A greve dos produtores argentinos - que fecharam as estradas e portos naquele país (ver matéria ao lado) - pode ter influenciado o mercado interno de arroz. Na última semana, apesar de mais de 40% da safra gaúcha ter sido colhida, as cotações do cereal subiram quase 3%. Em quatro dias, foram mais de R$ 0,65 de acréscimo por saca, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). O índice apurado pela instituição era de arroz a R$ 23,17 a saca na sexta-feira. Analistas de mercado, no entanto, são enfáticos ao afirmar que o anúncio de recursos do governo federal para apoiar a comercialização da safra e os preços internacionais recordes também têm influenciado as cotações do cereal. No mês passado, por exemplo, os valores praticados na Tailândia - que baliza o mercado internacional - eram os mais altos da história: US$ 515 a tonelada. "A comercialização, hoje, está travada", diz o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado. O diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica, Carlos Cogo, diz que a forte alta no mercado internacional - os estoques mundiais são os mais baixos desde 1984 - fez com que alguns países, como a Índia e o Vietnã travassem suas exportações, com medo de inflação. E, aliado a isso, os países do Mercosul também vão ser atraídos para outros mercados. "Trata-se de uma combinação de fatores", assegura. Além da questão internacional, o anúncio de R$ 800 milhões do governo para apoiar a comercialização de até 1,4 milhão de toneladas também está sendo apontado por analistas como um dos fatores de o mercado estar "firme" em plena safra. "O produtor está mais estruturado para armazenar e, com isso, escalonar a venda. Neste ano teve um atraso no processo de colheita no Rio Grande do Sul e tem as políticas do governo", lembra a pesquisadora do Cepea/USP, Maria Aparecida Braghetta. O secretário-executivo do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz), César Gazzaneo, diz que ainda não há problemas de abastecimento das empresas do estado por conta do movimento dos produtores argentinos. No ano passado, de acordo com dados da Safras & Mercado, o Brasil importou 700 mil toneladas do cereal do país vizinho. "A importação é pulverizada durante o ano. Então, o que deixou de entrar agora no Brasil, pode chegar depois", afirma. Para ele, muito além da questão no país vizinho, o que está havendo atualmente é uma reacomodação do mercado. "Houve anuncio do governo de mecanismo de apoio à comercialização. E, claro que, como o mercado mundial está em patamares diferentes, se reflete internamente".