País vizinho promete reabrir registros de exportação na próxima semana. Novos contratos vão garantir 1,2 milhão de toneladas do produto nos próximos 90 dias. Moinhos têm estoque para dois meses Preocupado com o abastecimento de trigo, o governo brasileiro pressionou ontem a Argentina por maior estabilidade no fornecimento, uma vez que o vizinho responde por 80% das importacões nacionais do grão. No fim, não conseguiu mais do que a repetição da promessa de que os registros para exportação do país vizinho serão reabertos na próxima semana. As estimativas, porém, são de que os novos contratos vão garantir mais 1,2 milhão de toneladas de trigo nos próximos 90 dias, quantidade insuficiente para completar a demanda anual brasileira. O Brasil consome por ano mais de 10 milhões de toneladas do produto. Pelos cálculos da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), até agora, o país fechou a compra de 2,6 milhões das 6,6 milhões de toneladas do grão importadas a cada ano - que se somam à produção nacional de 3,8 milhões de toneladas. "Dos 4 milhões que faltam, o governo autorizou a compra de 1 milhão (de fora do Mercosul) e a Argentina prometeu mandar mais 2 milhões. Ainda faltaria mais 1 milhão de toneladas. Só que há muita instabilidade. Os argentinos estão protelando a exportação por mais de 50 dias, enquanto os moinhos trabalham com estoques máximos de dois meses", diz o presidente da Abitrigo, Luiz Martins. "Estamos preocupados com a Argentina, nosso principal fornecedor", admitiu o secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat. "Mas não vemos risco de desabastecimento. Vamos procurar os EUA e o Canadá", explicou. Isenção de imposto Diante da decisão da Argentina de suspender exportações de trigo, o Brasil baixou para zero a tarifa de importação do grão dos países de fora do Mercosul. A isenção do imposto, no entanto, é limitada a 1 milhão de toneladas do produto. Mas se as dificuldades para comprar o trigo argentino continuarem, a alternativa é dobrar ou triplicar essa quantidade com alíquota zero. Até agora, apenas 250 mil toneladas foram contratadas, mas isso se deve tanto à expectativa dos moinhos de uma solução com o vizinho, quanto à espera pela safra dos EUA, em julho. Os moinhos brasileiros preferem o trigo argentino porque o frete é mais barato. Para ajudar, o governo brasileiro cogita aliar à tarifa zero uma isenção da taxa da Marinha Mercante - que chega a 25% do custo do frete. O Brasil, a exemplo do resto do mundo, está de olho na alta dos preços internacionais dos alimentos, puxada pelo consumo de China e Índia, com a ajuda de um movimento especulativo de investidores que buscam recuperar nas commodities parte do prejuízo com a crise financeira dos Estados Unidos. No caso do trigo, em um ano o preço disparou 85% no Brasil, 105% na Argentina e 110% nos EUA. No mercado nacional, o impacto nos derivados de trigo, no mesmo período, chega a 10%. E só no primeiro trimestre deste ano o pão francês subiu 3,5%. Na Argentina, as medidas foram mais duras. Para garantir a oferta e, conseqüentemente, segurar os preços, foram elevadas as tarifas de exportação do trigo. Além disso, desde dezembro foram bloqueadas autorizações para novos contratos de venda do grão. (LOG) Redução na farinha Além de prometer a retomada das exportações de trigo, a Argentina acenou com uma melhora num ponto de especial interesse para os moinhos brasileiros - a redução da diferença entre as tarifas de exportação do grão e da farinha de trigo. É uma disputa antiga. A Argentina vinha cobrando uma tarifa de 28% sobre o grão e de 10% sobre a farinha. O imposto mais baixo ajudou o país vizinho a, gradativamente, tomar espaço da farinha nacional do mercado brasileiro. Em 2004, a participação da farinha argentina no Brasil era de 2% do mercado. No ano passado, chegou a 8% e deve passar para 10% em 2008. Com medidas que têm um olho na inflação e outro no aumento da arrecadação, a Argentina mudou o sistema de tarifas de exportação. Quanto maiores os preços internacionais, maior será o imposto cobrado. A promessa ao Brasil é que, independentemente dessas flutuações, a diferença entre as alíquotas do grão e da farinha de trigo não será maior que 10 pontos percentuais. "Melhorou um pouco. Mas não dá para ficar contente. Essa diferença tinha que cair para 3%, 4%, no máximo", diz o presidente da Abitrigo, Luiz Martins. O governo também quer uma diferença menor, mas já sentiu que isso não acontecerá logo. "A Argentina alega estar passando por um momento difícil", disse o secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat. Em 2007, tentou-se estabelecer um acordo bilateral para limitar as exportações argentinas de farinha. Mas a negociação não avançou. O Brasil quer retomar a conversa e não descarta a abertura de um processo de antidumping contra o vizinho. "Queremos um acordo para evitar uma disputa", afirmou Meziat. (LOG)