Trigo - Estoques de trigo em baixa levam preço do pão às alturas
Data:
04/04/2008
Dependência do trigo da Argentina, que suspendeu exportações por risco de escassez, também ajuda a elevar preços no Brasil O preço do pãozinho aumentou em 14 capitais brasileiras, aponta pesquisa divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A alta também aplica-se à farinha de trigo em oito das nove capitais pesquisadas na região Centro-Sul do país. Em março, Goiânia apresentou alta de 16,25% no produto e o Rio de Janeiro 8,87%. Em Curitiba houve estabilidade. Em um ano, o aumento ficou em 9,86% na capital paranaense, diante de 77,14% registrado em Goiânia. Apesar dos reajustes nos alimentos à base de farinha de trigo, o período de forte escalada dos preços já passou, considera o gerente técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. Em sua avaliação, os reajustes que o consumidor vem sentindo nos últimos meses correspondem ao repasse das altas na cotação da commoditie registradas meses atrás. Em novembro, a tonelada passou da faixa de US$ 310 para US$ 360. Depois de uma trégua em dezembro, houve novo salto em janeiro, desta vez para a faixa de US$ 400. Turra diz que, para o produtor, as cotações estão boas e devem seguir estáveis até a próxima safra. Essa garantia vem da queda nos estoques mundiais e da crise argentina. "Quem ainda tem trigo da safra passada para entregar e não está com pressa vai esperar para ver se os preços aumentarão mais um pouco", pondera. O mercado pode estar se estabilizando, mas não mostra tendência de retorno dos preços às médias históricas. Isso porque os estoques mundiais de trigo nunca estiveram tão baixos nos últimos 30 anos. Eles normalmente ficam entre 20% e 30% da quantidade necessária para o consumo anual, mas agora estão em 18%, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Com produção inferior a 40% do consumo interno, o Brasil depende principalmente do trigo da Argentina, que também alega risco de escassez e vem mantendo as exportações suspensas. Neste momento, os produtores gaúchos e paranaenses, que respondem por 90% da produção brasileira, ainda têm cerca de 600 mil toneladas de trigo da safra passada para vender. No entanto, sem capacidade de armazenagem nem liquidez interna, eles (principalmente os gaúchos) ameaçam exportar o produto, o que elevará o risco de falta de farinha no mercado brasileiro no segundo semestre. Produtividade A produção brasileira atingiu 6 milhões de toneladas duas vezes - em 1987 e em 2003. Na primeira vez, plantou-se 3,4 milhões de hectares e, na segunda, apenas 2,7 milhões. Ano após ano, a produtividade vem aumentando. Na safra passada, a cultura ocupou reduzido espaço de 1,7 milhão de hectares, de acordo com números da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), para uma produção de 3,9 milhões de toneladas - metade colhida no Paraná. Nos últimos anos, os produtores deixaram de cultivar trigo. As áreas vagas têm recebido pasto, cana-de-açúcar e plantas que simplesmente protegem o solo no inverno. O setor espera mudanças na política nacional de preços mínimos e financiamentos para voltar a investir na chamada triticultura. Neste ano, diante da altas nos preços, o plantio, que começa daqui a um mês, deve chegar a 1,8 milhão de hectares. Mas, mesmo que a produção passe de 4 milhões de toneladas, não vai livrar o Brasil da pressão externa, avalia Turra. Em Curitiba, cesta básica sobe 5,2% O custo da cesta básica subiu em 11 das 16 cidades pesquisadas pelo Dieese. Em Curitiba, a lista dos 13 produtos alimentícios de primeira necessidade fechou o primeiro trimestre do ano custando R$ 196,98 - acumulando alta de 5,21%. Em março o reajuste foi de 0,24%. A capital paranaense está exatamente no meio da lista, na 8ª posição da lista encabeçada por São Paulo, onde o valor da cesta é de R$ 223,94. A cesta mais barata do país é encontrada em Recife, por R$ 166,13, com queda de -3,43% no mês de março. Apesar da alta no trimestre, Curitiba é a cidade em que o custo teve a menor variação nos últimos 12 meses - 8,14% - enquanto Goiânia teve reajuste de 21,26%. Hoje, um trabalhador curitibano, cuja remuneração equivale ao salário mínimo, compromete 51,59% do seu ordenado para aquisição dos alimentos essenciais. Isto equivale a 104 horas e 25 minutos de sua jornada mensal, segundo o Dieese. (ACN)