Trigo - Efeito cascata leva a indústria do trigo a fechar unidades
Data:
09/04/2008
A indústria de trigo e derivados está sucumbindo à pressão dos preços internacionais da commodity, com fechamento de moinhos e ameaças de falência das empresas. O setor deve anunciar na próxima quarta-feira, dia 16, um forte reajuste nos produtos de toda a cadeia. As quatro principais entidades do setor: Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip) e Associação Nacional das Indústrias de Biscoito (Anib) vão alertar para o repasse que será feito nos próximos dias. Na ocasião, a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) será apontada como a principal demanda dessas entidades que também irão cobrar uma política mais firme do governo para minimizar a alta. De acordo com o Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), a dificuldade na aquisição da matéria-prima e a resistência encontrada para reajustar os preços estão forçando quatro moinhos do Estado de São Paulo a paralisarem suas atividades. Como a falência ainda não foi decretada, a entidade prefere não revelar os nomes. O Sindicato dos Empregados em Empresas de Industrialização Alimentícia de São Paulo e Região (Sindeeia), por sua vez, analisa os casos que chegaram ao seu conhecimento sobre cobrança abusiva de alguns moinhos, o que também estaria levando algumas empresas desse segmento a uma situação de risco. A evolução acima de 120% dos preços do grão, nos últimos 12 meses, está provocando um efeito cascata que já atinge a indústria de alimentos e deve impactar com força o bolso do consumidor. Ambos já podem sentir os primeiros efeitos da oferta pressionada. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o preço dos panificados e biscoitos apresentaram para o brasileiro uma aceleração média de 2,86% nos 30 dias encerrados em 7 de abril. Até 31 de março, a alta havia sido de 1,87%. Só o pão francês subiu 8,25%. A indústria também se sente prejudicada e já dá sinais de desgaste. Hoje, o Sindeeia tem mais de mil processos em andamento contra indústrias do segmento que ainda não ressarciram os trabalhadores demitidos nos últimos anos. "São empresas que já decretaram falência e voltaram a atuar com outro nome e outras que agora passam por dificuldades decorrentes da crise do trigo", afirma o diretor do sindicato, José Ferreira dos Santos. "Em alguns casos até ajudamos elas a firmarem acordos com fornecedores para viabilizar o pagamento desses funcionários e evitar novas demissões", completa Santos. A explosão nos preços foi sentida mais drasticamente pela indústria em março quando o aumento da farinha foi de 25% no acumulado até fevereiro para 44%, o mesmo incremento registrado em todo o ano de 2007. Duas empresas de massas, que não quiseram se identificar, também reclamam dos aumentos semanais promovidos por alguns moinhos que chegam a cobrar até R$ 110 a saca, quando a média do mercado é R$ 86 a saca. "Enquanto as grandes empresas fornecem para grandes compradores os moinhos menores monopolizam o restante do mercado", acusa o proprietário de um dos pastifícios. No caso das grandes companhias uma estratégia de mercado mais elaborada permitiu um repasse menor nos preços até o momento. "Repassamos cerca de 22%, mas em maio vamos ter que repassar o restante", diz o gerente de suprimentos do Moinho Água Branca, Maurício Ghiraldelli. Patamar semelhante foi o aumento divulgado pela J. Macedo, de 23,5%. A companhia, que está entre os três maiores compradores de trigo do Brasil, também anunciou recentemente o fim das atividades na sua unidade paulista. Por razões logísticas, baixa produtividade e falta de capacidade de expansão, a empresa optou por transferir a produção para outras localidades produtivas. Atenta ao efeito que a alta dos preços poderá ter sobre o consumidor a M. Dias Branco anunciou ontem a compra da Indústria de Alimentos Bomgosto, dona de marcas mais populares. A aquisição no valor de R$ 595,5 milhões deve elevar a participação da empresa no mercado para 19,3% em biscoitos e 21,3% em massas. Os altos preços do trigo e a resistência encontrada para efetuar reajustes já fizeram com que pelo menos três moinhos da cidade de São Paulo e outro da região do ABC paralisassem suas atividades. Além deles, a J.Macêdo, terceira maior empresa processadora da commodity, também anunciou recentemente o fim das atividades na sua unidade paulistana do bairro da Lapa. Por razões logísticas, baixa produtividade e falta de capacidade de expansão da produção, a empresa optou por transferir a produção a outras plantas da empresa. Além do impacto sobre os moinhos, a evolução acima de 120% dos preços do grão nos últimos 12 meses -a greve dos produtores rurais argentinos também contribuiu para um aumento do preço deste lado da fronteira- está provocando um efeito cascata que já atinge a indústria de alimentos e deve finalmente impactar em breve no bolso do consumidor. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o preço dos panificados e biscoitos apresentou uma aceleração média de 2,86% nos 30 dias encerrados em 7 de abril. O pão francês subiu 8,25%. O produto puxou o índice, que subiu 0,64% na primeira semana de abril para preços coletados até o dia 7. Na última semana de março, o indicador havia registrado alta de 0,45%. Para a indústria de alimentos, a explosão nos preços foi sentida mais drasticamente em março, quando o aumento da farinha foi de 25%, no acumulado até fevereiro, para 44%, o mesmo incremento registrado em todo o ano de 2007. Duas empresas fabricantes de massas, que não quiseram se identificar, também reclamam dos aumentos semanais promovidos por alguns moinhos que chegam a cobrar até R$ 110 a saca de 60 kg, quando a média do mercado é R$ 86 a saca. Diante disso, as quatro principais entidades do setor realizarão um pronunciamento conjunto para alertar governo e sociedade do repasse de preços que será feito nos próximos dias.