As altas constantes nos preços da farinha de trigo, que nos últimos seis meses atingiram 100%, e a oferta restrita por conta do bloqueio das exportações por parte da Argentina - maior fornecedor para o Brasil -, estão levando a uma crise que implica na falta do produto no mercado. As padarias de Piracicaba já sentem o problema e, do lado dos consumidores, a dor é no bolso, que tem pago mais caro pelo pão francês, que subiu de R$ 5 para R$ 8 o quilo em média, aumento que também atingiu outros artigos feitos com farinha. O saco de 50 quilos da farinha de trigo, que há seis meses saía por R$ 40, hoje custa entre R$ 80 e R$ 90, um prejuízo que os proprietários de padarias acabam repassando ao consumidor, já que o produto equivale a 40% da massa do pão, imprescindível para a fabricação. "Não existe alternativa para o trigo. O padeiro pode adicionar no máximo 5% de fécula de mandioca ou de fubá à massa, mas são valores insignificantes. A farinha representa o maior custo do pão", disse Cássio Luciano Borges Barbosa, presidente da Apapir (Associação das Indústrias de Panificação e Confeitaria de Piracicaba e Região). O aumento não atinge apenas a produção do filãozinho, mas de outros produtos que também dependem da farinha, como bolos, doces, bolachas, salgados, biscoitos e massas. Cepea analisa mercado A Argentina taxou as exportações do trigo numa tentativa de aumentar a oferta no mercado interno daquele país e baixar os preços. O Brasil, que só produz 1/3 do grão, tem conseguido importar mais farinha do que trigo argentino, pagando ainda mais caro, já que o produto tem valor agregado. Na análise sobre o mercado de trigo elaborada pela equipe do professor Lucílio Alves, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo), esta semana o mercado interno de trigo esteve mais calmo, com agentes aguardando a retomada das exportações argentinas e a demanda sendo atendida com a chegada do produto importado. O que ninguém esperava, porém, era o novo adiamento dos registros de exportação da Argentina. "Com o intuito de evitar aumentos de preços do trigo naquele país, o governo anunciou para somente 5 de maio a possibilidade de novos registros de exportação de trigo - esperava-se que na próxima semana os registros fossem retomados", disse. Assim, o volume de trigo e farinha que chegaram ao Brasil em março, ajudaram a amenizar apenas parcialmente a pressão no mercado nacional. Segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), foram importadas 527,8 mil toneladas de trigo no período, menos da metade das 1,144 milhão de toneladas de fevereiro e ligeiramente abaixo da média observada no mês de março entre 1996 e 2007, que foi de 547,5 mil toneladas.