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Arroz - Intervenção para conter alta
Data: 23/04/2008
 
Governo vai usar o estoque de 1,4 milhão de toneladas de arroz na tentativa de segurar o preço do produto, que sobe em todo o mundo
O governo vai intervir no mercado de arroz para evitar uma alta generalizada nos preços ao consumidor. Para o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães, acendeu a "luz amarela" e, por isso, está no momento de desovar o estoque de 1,4 milhão de toneladas, o que representa 11,6% da produção prevista para o ano (12 milhões de toneladas). Um aumento do preço nas gôndolas, no entanto, não é descartado e o arroz já é apontado, por alguns analistas de mercado, como um dos vilões da inflação nesse ano - ao lado do pão francês, tomate e carne bovina.
Amanhã, representantes do Ministério da Agricultura, da Companhia Nacional da Abastecimento (CONAB) e de produtores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, se reúnem, em Brasília, para definir a estratégia de venda do estoque do governo. "Na política de abastecimento, temos dois lados da moeda. Tem o lado do produtor e do consumidor", afirma o secretário, destacando que é preciso garantir o preço mínimo para o agricultor e, ao mesmo tempo, evitar que o produto fique muito caro para o consumidor. "Acompanhamos os preços o tempo todo e quando acende a luz amarela, vendemos o estoque. Vamos sentar com o setor para definir como será feita a intervenção", acrescenta.
O superintendente de Gestão de Oferta da CONAB, Paulo Morceli, ressalta que, em janeiro, o governo vendeu parte do estoque porque o preço estava subindo. Mas agora existe um ingrediente especial, o valor do arroz está disparando em todo o mundo e pode implicar uma alta mais forte para o consumidor. Na Tailândia, por exemplo, o preço da tonelada saltou de US$ 337, no final de 2007, para US$ 950, na semana passada. Segundo ele, a expectativa é de uma produção mundial de 27,5 milhões, para este ano, sendo que o consumo previsto é de 24 milhões. "Precisamos analisar o que está acontecendo porque não está havendo redução de produção. Alguns suspeitam de uma bolha", conta. "O feijão foi o vilão da inflação no ano passado porque não tínhamos estoques", ressalta o superintendente da CONAB.
Reajustes à vista
Independentemente da venda dos estoques do governo, o quilo do arroz deve pesar um pouco mais no bolso do consumidor. Isso porque, somente nos últimos 30 dias, o produto apresentou uma valorização para o agricultor de cerca de 30%. "Se essa elevação for repassada para o consumidor, representará um acréscimo de R$ 0,11 no quilo do arroz", afirma o analista de mercado do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), Camilo Oliveira. Além disso, a tendência é de que o preço do produto continue subindo no mundo. Isso porque muitos dos países produtores estão restringindo a exportação de arroz para abastecer o mercado interno. Esse movimento faz com que os preços fiquem pressionados.
No Brasil, a produção de arroz neste ano deve atingir 12 milhões de toneladas, sendo que o consumo é de 13,1 milhões. A expectativa é de alta dos preços, porque o país não está conseguindo importar o produto para atender a demanda. Uruguai e Argentina adotaram medidas protecionistas e, em alguns casos, estão preferindo fazer negócio com outras nações. Para agravar a situação, muitos produtores nacionais também encontraram na exportação uma forma de ganhar mais dinheiro.
Por enquanto, o arroz (em casca), conforme o Índice Geral de Preços - Mercado, registrou queda de 0,44% nos preços, no segundo decêndio de abril. No mês anterior, a contribuição para a baixa da inflação era de 5,96%. "Ainda não está subindo, mas teve uma aceleração boa no preço. O arroz subiu muito no mundo todo. Agora é esperar para ver qual será a repercussão no Brasil", destaca o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
O economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, explica que o arroz subiu quase 30% este ano no atacado e, em algum momento, esse reajuste deve ser repassado ao consumidor. "Existe um lado preocupante porque muitos países estão adotando medidas protecionistas. Os exportadores brasileiros têm mais receitas ao vender o arroz. Mas, por outro lado, se a oferta do produto diminuir internamente a inflação será pressionada", alerta Thadeu Filho. Para o economista da LCA Consultores, Raphael Castro, o arroz, assim como os derivados do trigo e soja, devem continuar pressionando os preços no país. "A bola da vez é o arroz. No ano passado, foi o feijão, que agora deve apresentar uma baixa", conta o economista.
Previsão de inflação maior
A redução no preço da soja fez com que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) caísse pela metade no segundo decêndio de abril - que compreende o intervalo entre 21 de março e 10 de abril. O índice recuou de 0,78% para 0,37%. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, a baixa de 9,80% no preço da soja acaba encobrindo a alta nos valores do tomate (35,28%), dos bovinos (3,61%) e a aceleração do arroz - cujo o recuo caiu de 5,96% para 0,44%. "O arroz é a nova estrela em ascensão", afirma Salomão.
Apesar do alívio visto no IGP-M, os economistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus projetam uma inflação maior para o fim de ano. A previsão da variação do IGP-M para 2008 saltou de 6,02% para 6,21%. No que diz respeito ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os analistas elevaram de 4,66% para 4,71% no final de 2008 - bem acima do centro da meta do governo, que é de 4,5%. O economista da LCA Consultores, Raphael Castro, explicou que essa alta está relacionada ao IPCA de março, que veio acima das estimativas de mercado.
O Boletim Focus manteve a projeção de taxa básica de juros (Selic) em 12,75% para o final do ano. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou os juros de 11,25% para 11,75% ao ano para frear a inflação do país. "Os riscos para aumento de preços estão aumentando. A pressão do preços das commodities subiu e muito rapidamente. Isso vai ter algum efeito no IPCA", diz Castro. Com a previsão de juros maiores, a estimativa de crescimento econômico caiu de 4,7% para 4,6% em 2008. (ES)
Consumo aumenta
O ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse haver um "bombardeio mundial" contra os biocombustíveis, responsabilizados pelo aumento dos preços dos alimentos. Na avaliação dele, entretanto, a elevação dos preços é conseqüência do aumento do consumo de chineses e indianos, beneficiados pelo crescimento econômico de seus países. Para Furlan, esse é um problema positivo e que poderá ser resolvido pelo aumento da produção mundial de alimentos. "Há um bombardeio mundial em relação a essa questão do aumento de preço de alimentos, que poderia ter origem no uso de grãos para biocombustíveis", disse. O aumento do consumo de alimentos por Índia e China é um fato que deveria ter sido previsto, mas que estranhamente ninguém previu.
Furlan considera que há exagero nas críticas segundo as quais a expansão dos biocombustíveis ameaça o meio ambiente. "Eu acredito que há exagero também na questão ambiental. O Brasil tem 60% das florestas que tinha há mil anos. A Europa tem apenas 0,3%, e a América do Norte, 19%, isso em função das reservas do Canadá, e não dos Estados Unidos e México. A Índia praticamente eliminou as suas reservas."

Fonte: Correio Braziliense
 
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