Feijão - Troca de feijão carioca por preto faz País comprar da China
Data:
24/04/2008
A alta do preço do feijão carioca no ano passado, a partir de agosto, chegando ao auge em dezembro, fez os consumidores brasileiros mudarem seus hábitos. E provocou uma invasão de produto chinês. Tradicionalmente, o brasileiro prefere o feijão carioquinha ao preto - usado no Sudeste em feijoada. Por isso, a produção e o consumo ficam em torno de 15% para o feijão preto. A estimativa da Unifeijão é que, diante da mudança de cenário, o índice tenha passado para quase 20% do consumo, inclusive com crescimento no Nordeste, onde a preferência é pelo macaçar. O resultado é que o feijão preto acompanhou a alta de preço verificada no carioca e hoje a diferença entre os dois é pequena. Como a cotação estava elevada no Brasil no final do ano (recorde histórico), as empresas passaram a importar de terceiros países - até então a principal fornecedora era a Argentina. Com isso, apenas no primeiro trimestre deste ano, 30% do grão trazido do exterior veio da China. No mesmo período de 2007, o Brasil não importou nada daquele país e em 2006 foram apenas 121 toneladas - de um total de 2.248 toneladas entre janeiro e março. "O feijão chinês é mais barato", explica o analista Rafael Poerschke, da Safras & Mercado. O produto que entrou no Brasil em janeiro, por exemplo, chegou a US$ 825 a tonelada (incluindo a Tarifa Externa Comum e frete), enquanto o argentino custava US$ 962 a tonelada. A analista da Unifeijão, Sandra Heitzel, explica que o cálculo do importador é o seguinte: quando passa de R$ 100 a saca no mercado interno, vale a pena trazer da China. Mas acrescenta que o produto argentino é de melhor qualidade. "O feijão preto chinês é mais miúdo e o tempo de cozimento é maior", diz. Segundo os analistas, os importadores devem ter misturado o produto ao argentino, para que a diferença não seja tão sentida. Apesar de mais barato, o grão chinês é praticamente a última alternativa, pois além da qualidade, demora até três meses para ser internacionalizado. De acordo com a Unifeijão, em dezembro, o feijão carioca custava R$ 246,20 a saca no atacado - valorização de 236% no ano. Naquela época, o preto chegou a R$ 121,07 a saca - alta de 124%. No mês passado, o feijão preto apenas R$ 50 a saca mais barato que o carioquinha, no atacado. Segundo a Safras & Mercado, o volume importado em todo o primeiro trimestre - 24,1 mil toneladas - já responde por mais de 30% das compras externas de feijão preto de 2007. O aumento das importações no período devem impactar no resultado para o ano. Segundo Poerschke, em 2007, o volume internacionalizado já havia sido o maior desde 1997, quando o País adquiriu do exterior 189 mil toneladas, sendo 75% do grão preto. Naquele ano, o Brasil não precisou da China. Na década atual, apenas na temporada 2000/01 o volume importado precisou ser tão grande: 129,9 mil toneladas. A estimativa da consultoria é que o País compre do exterior 100 mil toneladas, sendo 85 mil toneladas do grão preto. Em 2007, foram 76,7 mil toneladas de feijão preto vindas do exterior. Ou seja, a previsão é de um aumento superior a 10% nos volumes adquiridos do cereal. O analista acrescenta que as importações sempre crescem quando existem problemas climáticos, que reduzem a safra. Poerschke lembra também que, como está sendo colhida a segunda safra, a estimativa é que as importações se arrefeçam e só voltem no início do próximo semestre. Poerschke diz que o movimento chinês tende a diminuir a partir de agora e que, no fechamento do ano, o país venha a representar menos de 20% do total comprado. Preços influenciam Na atual temporada não foi apenas o clima o fator determinante. No ano passado, houve redução da safra por conta dos preços - que chegaram a R$ 40 a saca ao produtor de carioca, em abril, o menor valor do ano. Com isso, a safra seguinte - são três durante um ano - foi reduzida e, aliado a fatores climáticos, o resultado é que em dezembro o preço estourou. Na época, havia também o prenúncio de uma entressafra maior porque as chuvas haviam demorado, atrasando o plantio da primeira safra. A primeira colheita do grão, que tradicionalmente é a maior das três, no entanto, teve redução de 14% no volume, somando 1,35 milhão de toneladas, de acordo com a Safras & Mercado - ajudando a manter o preço firme. Para a segunda safra, a estimativa é de 1,39 milhão de toneladas, cerca de 40% a mais que na passada. Esta safra encontra-se em desenvolvimento, na maior parte do país, com 32% colhidos no Rio Grande do Sul. Poerschke explica que, como na segunda safra tradicionalmente se planta menos feijão preto e houve um aumento substancial do volume de carioquinha, a tendência é que as cotações deste caiam e, com isso, a diferença entre os valores dos dois produtos diminua, chegando bem próximos no mês que vem. "Mas como a segunda safra não vai compensar a perda da primeira, a estimativa é que os preços dos dois produtos se mantenham firmes durante o ano", acrescenta Sandra.