Arroz - Intervenção oficial no mercado de arroz desestimula o plantio
Data:
25/04/2008
A suspensão das exportações de arroz como forma de controle de inflação poderá provocar a redução do plantio na próxima safra, além de inibir a formação de um mercado que até então o Brasil estava fora. Diante de crise de oferta internacional do cereal, o País espera comercializar com o exterior entre 600 a 1milhão de toneladas na safra atual. Analistas de mercado temem também que uma intervenção no mercado de arroz possa ser "apenas o início" de outras, que atingiriam outros produtos, como o milho, por exemplo. Até o momento, o governo afirmou apenas que não irá negociar seus estoques - da ordem de 1,3 milhão de toneladas - com outros países, sobretudo da África e da América do Sul, que já haviam manifestado o interesse em 500 mil toneladas. Em reunião com representantes da cadeia produtiva do arroz, o governo negociou a venda de 55 mil toneladas dos estoques públicos com o objetivo de regular o mercado nacional. A primeira oferta, será em 5 de maio, com um preço de abertura de R$ 28,00 por saca de 50 kg de arroz tipo 1 com rendimento 58/10. O volume a ser ofertado em outros leilões será definido após a avaliação do resultado da primeira operação pelo Ministério da Agricultura e pela COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB).
Preocupação
A notícia de que o governo poderá intervir no mercado e barras as exportações gerou muita preocupação. "E se o governo intervir em todo o mercado?", questionou Jair Almeida, da Expoente Corretora de Mercadorias. A empresa já estava negociando alguns volumes para o Egito, Inglaterra e Costa Rica. "É uma oportunidade única para o Brasil. Se ele não exportar, a Argentina e o Uruguai ficam sozinhos em um mercado demandado", afirma. Tradicionalmente os países do Mercosul exportam entre 700 mil a 1 milhão de toneladas ao anos para o Brasil, mas com a alta dos preços internacionais especialistas apostam na queda.
As exportações do Brasil ainda eram incipientes. Apenas neste ano o País recebeu pedidos de arroz inteiro e parboilizado. O Rio Grande do Sul recebeu, no mês passado, missão do Oriente Médio, interessada em amostras do produto. Também a Costa Rica manifestou interesse de comprar até 200 mil toneladas do cereal gaúcho. Para analistas, muitas tradings estavam fazendo parcerias com fornecedores e até estocando produto próximo ao Porto de Rio Grande.
Almeida lembra que a previsão de especialistas mundiais é que os preços mantenham-se firmes por três a cinco anos, diante da crise de oferta. Os estoques mundiais são os mais baixos desde 1984.
O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz), César Gazzaneo, lembra que a aceleração das exportações ocorreu em função da escalada do preço mundial. Em 12 meses, por exemplo, a cotação na Tailândia - país que baliza o mercado internacional - subiu mais de 150%. "Com a situação atual ninguém sabe mais o potencial, apesar dos gargalos de logística", afirma. O País sempre quis ser "vendedor" e agora está em uma situação privilegiada, afirmou.
O analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, lembra que há quatro anos os produtores arcam com a retração dos preços. A intervenção do governo justamente agora poderá se refletir em uma redução no plantio da safra 2008/09. Bento lembra que, mesmo que o País exporte, ainda sobrará estoque. Pelos seus cálculos, se o volume importado cair de 1 milhão (do ano passado) para 700 mil toneladas e o Brasil exportar a mesma quantidade (no ano passado foram 450 mil toneladas), o estoque final ficará em 1 milhão de toneladas - o desta safra foi 1,8 milhão de toneladas. "A suspensão das exportações repete providência da Argentina em relação ao trigo", diz o analista.
Para a economista Amarylis Romano, da Tendências, a medida serve para mostrar que "está atendo à escalada de preços". Mas, na sua avaliação, desenecessária, uma vez que as exportações brasileiras de arroz são pequenas. No entanto, assim como outros analistas, ela teme que a medida possa representar um risco para outros segmentos. "Se começar a fazer isso, pode gerar um medo, já que o produtor está descapitalizado". Ela lembra que o milho poderia ser um dos "próximos alvos" do governo.