Soja - Certificação para soja "sustentável" gera preocupação
Data:
28/04/2008
O sistema de certificação de sustentabilidade da soja pode se transformar em uma nova barreira não-tarifária ao produto no mercado europeu. E o Brasil, que já está perdendo a batalha dos biocombustíveis na Europa, pode ver outro importante mercado se fechar. O alerta foi lançado por especialistas da cadeia de produção da soja durante a 3ª conferência internacional do Fórum Global sobre Soja Responsável (RTRS na sigla em inglês), realizada dias 23 e 24 em Buenos Aires. A conferência foi convocada por esta organização internacional para colher sugestões sobre os critérios para a criação de um certificado de "soja responsável", que não cause danos sociais e ao meio ambiente. Duas outras reuniões serão convocadas antes da divulgação de um documento final, com o consenso das posições entre os participantes, previsto para o segundo semestre de 2009. O debate acabou influenciado pela preocupação com o avanço da soja, deslocando a produção de alimentos. "A soja virou alvo de críticas porque está avançando, mas isso não pode ser considerado um problema se o cultivo é sustentável", disse ao Valor Alejandro Lopez, diretor da Adecoagro, um dos maiores grupos de agronegócios da Argentina. A questão é: sob que critérios o produto será considerado "responsável" ou não. "Essa discussão é importante porque é uma demanda que partiu da União Européia, preocupada com aspectos qualitativos do produto", disse Monika Bergamaschi, diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (AbagRP). Do total exportado em soja pelo Brasil, 50% vão para o continente europeu. "Os critérios de sustentabilidade podem se transformar em uma barreira", alertou Adriano Timossi, analista de comércio agrícola internacional e consultor com passagem pelo grupo de negociação agrícola e desenvolvimento rural da Comissão Européia. Brasileiro residente em Genebra, Timossi disse que "o Brasil está ficando isolado" em sua posição de defesa dos biocombustíveis devido a uma reviravolta na opinião pública européia sobre os biocombustíveis a base de grãos. E que se não intensificar sua participação e ações públicas no debate sobre a certificação da soja, corre o risco de ver o produto vetado, como já aconteceu com a carne. O Brasil estava representado na conferência da RTRS por diversas entidades da cadeia de produção e consumo, entre eles a Abag, a Abiove (indústrias de óleos vegetais), produtores, ONGs e consultorias independentes. Os representantes de produtores e indústrias sugeriram que o serviço de certificação seja remunerado e que isso seja incluído no preço. "Do contrário, vão nos obrigar a apresentar um certificado mas não vão querer pagar por ele", disse Carlos Lovatelli, presidente da Abiove. Ele defendeu que se encontre uma forma de remunerar os produtores por não plantarem nas terras da reserva de proteção ambiental. Entre os argentinos, Alejandro López, da Adecoagro, e Gustavo Grobocopatel, do grupo Los Grobo (maior produtor de soja do país), defenderam que a certificação adote como norma as técnicas já disseminadas na Argentina como o plantio direto, manejo integrado de pragas e rotação de cultivos com outros grãos. (JR)