Soja - Sojicultor mato-grossense começou ano com déficit de 45 sacas
Data:
19/05/2008
As últimas quatro safras ruins para o produtor mato-grossense (04/05, 05/06, 06/07, 07/08) deixaram um saldo de dívidas de mais de R$ 12 bilhões. Na sojicultura esse passivo que vem se arrastando há anos pode ser mais bem entendido se transformado em sacas. Neste período, o sojicultor estadual acumula prejuízo de 45 sacas por hectare (ha), ou seja, esse é o déficit que os tempos de vacas magras impuseram à atividade. O produtor pode levar até 11 anos para saldar a conta negativa. Mas, colocando tudo na ponta do lápis, os 11 anos podem ser estendidos, pois a margem de lucro do produtor - considerada restrita, mesmo em uma safra considerada muito boa -, é consumida apenas pelos juros cobrados. O diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja e de Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Marcelo Duarte Monteiro, explica que levando em consideração o custo atual de produção, US$ 590 por hectare, há nesta safra um saldo de R$ 126 por hectare para o produtor, ou cerca de quatro sacas/ha. “Mas, ao colocar no papel, as quatro sacas de margem são consumidas pelas taxas de juros, que em média chegam a 8% ao produtor. Elas absorvem 3,6 sacas”. Ele explica ainda que desconsiderando o impacto da taxa de juros e a existência de 45 sacas em débito, a margem de quatro sacas desta safra seria para viabilizar três coisas essenciais ao produtor: sobreviver, recompor seu parque agrícola e pagar dívidas. “Enquanto a nossa margem de lucro é de R$ 126 por hectare, no Paraná, por exemplo, chega a R$ 834/ha, conforme os números da Agrocunsult”. O diretor destaca que a sobra de quatro sacas, ainda não faz da atividade um bom negócio, ou financeiramente sustável, “já que historicamente, apenas o arrendamento de terras custa ao produtor sete sacas por hectare”, exclama. E completa: “para chegar a este lucro, foram contabilizados apenas os custos variáveis, não entram as parcelas de financiamentos de máquinas, por exemplo. E o Paraná obtém essa margem, que pode é sinônimo de rentabilidade, porque tem logística favorável, usa menos adubos, frete é quase irrisório e a pressão da ferrugem quase inexistente”. E numa receita contraditória imposta pelos novos tempos da agricultura mundial, o produtor descapitalizado é obrigado a cada safra, investir em tecnificação. “Nesta safra, a soja ainda não remunera o produtor, mesmo tendo sido a melhor desde o ciclo 04/05, tanto em produtividade como em cotação, porém, o produtor ainda não consegue pagar as dívidas e tão pouco reinvestir na propriedade”. (MP)