Arroz - Leilões e cenário internacional afetam os preços do arroz
Data:
02/06/2008
A semana encerrou com o mercado apresentando ligeira baixa nos preços do arroz em casca praticados nos mercados do Rio Grande do Sul e Brasil, uma tendência que já vinha sendo apontada pelos analistas há pelo menos três semanas. Nos últimos 15 dias, acentuou-se a queda nas cotações pela oferta do cereal dos estoques públicos nos leilões do governo, com mais de 190 mil toneladas postas em negociação. Nos quatro leilões realizados, foram perto de 280 mil toneladas. No leilão de venda da Conab, realizado quinta-feira, o lote inicial atingiu média de R$ 31,07 por saca (12% de ágio). O segundo lote alcançou valor médio de R$ 31,60 (ágio de 15%). No total foram ofertadas 85,754 mil toneladas, de um total previsto em 100,3 mil/t. O lote de 14,9 toneladas teve negociação suspensa. Na próxima semana a cadeia produtiva se reúne em Brasília para avaliar a comercialização, os resultados dos leilões e sua continuidade. A cadeia produtiva posiciona-se contra, considerando que a ação governamental está baixando os preços. O governo, por sua vez, tem foco em impedir o aumento da inflação, e isso representa oferta de comida barata à população, principalmente nos gêneros de cesta básica. A cadeia produtiva gaúcha proporá a realização de um pregão a cada 15 dias, com a oferta de 50 mil toneladas. INTERNACIONAL O cenário internacional, também interferiu nas cotações, com alguns países asiáticos, anunciando a retomada das exportações, bem como o informe positivo do andamento da safra norte-americana. A FAO, também anunciou que arroz, entre outros alimentos, deve registrar uma redução nos preços para os próximos meses, mas que o encarecimento dos gêneros alimentícios é uma tendência irreversível para os próximos anos. A Agência para Agricultura e Alimentação da ONU, prevê que chegou ao fim a era da comida barata. SAFRA A safra gaúcha só não está encerrada pelo atraso no plantio da Depressão Central, onde Cachoeira do Sul e Candelária, ainda não encerraram a colheita. As últimas áreas estão sendo colhidas, apesar do frio que acabou comprometendo a produtividade das áreas atrasadas. PREÇOS Diante deste cenário, os preços referenciais de comercialização do arroz no Rio Grande do Sul ficaram, em média, entre R$ 33,00 e R$ 34,00 nas principais praças de comercialização, como Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Alegrete, São Gabriel, Restinga Seca, Santa Maria, São Lourenço do Sul e Guaíba. Nas regiões de grande concentração industrial, como Camaquã, Pelotas, São Borja, Itaqui e Uruguaiana, as cotações médias ficaram entre R$ 35,00 e R$ 36,00 com forte pressão de baixa. No Litoral Norte gaúcho, as cotações também sofreram ligeira queda com o aumento da oferta, ficando na faixa de R$ 36,00. A Emater/RS indica que durante a semana, a saca de 50kg manteve-se praticamente estável, sendo negociada em R$ 34,93 junto ao produtor. A diferença em relação ao preço da semana anterior ficou em 0,68%. De acordo com o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a cotação do arroz caiu mais de 5% esta semana e a saca foi negociada a R$ 33,48 nesta sexta-feira (30), contra R$ 35,12 de referência na semana anterior, baixa de R$ 1,68 por saca. Maio que iniciou em alta forte de preços, encerrou com a valorização de apenas 1,07%. Estes preços se referem à saca de arroz de 50 quilos (58x10) colocada dentro da indústria (frete incluso). CUSTOS Para a Federarroz, a alta dos preços em plena safra não gerou lucro, apenas repôs parte do prejuízo acumulado pelos produtores nas últimas safras, quando o custo médio de produção foi de R$ 26,00 por saca e o preço recebido pelos produtores ficou abaixo dos R$ 22,00. O aumento dos insumos também já retirou grande parte do ganho dos agricultores gaúchos, que ontem tiveram a renegociação de suas dívidas aprovada por medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Federarroz anunciou que o custo de produção da próxima lavoura está em R$ 30,00 por saca, pelos aumentos de preços dos fertilizantes (120%), defensivos (45%) e óleo diesel (15%). O setor mantém a posição de que a exportação de arroz nesta safra, consolidando uma boa posição no mercado mundial, é importante para a estabilidade dos preços, ao mesmo tempo em que torce para que os preços mundiais mantenham um patamar mais alto, canalizando os volumes excedentes do Uruguai e Argentina para terceiros mercados. A CESA, enquanto isso, anunciou que já tem 48 mil toneladas de arroz para exportar. INDÚSTRIA A comercialização e o mercado foram os temas centrais do encontro da indústria brasileira em Cachoeira do Sul, esta semana, durante a Fenarroz. O setor comemora o ótimo momento e a Feira deve registrar um movimento superior a R$ 200 milhões na comercialização de máquinas para beneficiamento de arroz, bem como equipamentos aos produtores. A avaliação dos industriais é de que os preços devem seguir uma trajetória baixista no próximo trimestre, recuperando um pouco a valorização no final do ano. Alertaram para o caso de o governo precisar manter os leilões se o setor produtivo adotar novamente a prática de segurar a oferta. A Feira apresentou muitas novidades em equipamentos e máquinas para seleção e beneficiamento. A indústria segurou um pouco mais a demanda no final desta semana, esperando preços menores para a abertura de mercado de junho. MERCADO A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 33,00 para o arroz em casca no Rio Grande do Sul esta semana, com queda de R$ 0,50 para cada saca de 50 quilos. O preço da saca de 60 quilos de arroz beneficiado (sem marca) seguiu trajetória contrária e subiu R$ 0,50, para R$ 70,00 (FOB) – que chega a São Paulo entre R$ 77,00 e R$ 86,00. A corretora indica ainda a manutenção dos preços de R$ 49,00 para o canjicão, R$ 37,00 para a quirera R$ 350,00 para a tonelada do farelo de arroz, com boa procura tanto para exportação quanto pela indústria local. A tendência é de o mercado seguir em compasso de espera, com leve baixa na próxima semana, enquanto aguarda uma definição da posição governamental sobre os leilões. A postura da indústria e do produtor será decisiva. De uma maneira geral, os analistas indicam ligeira queda nos preços, para cotações médias estabilizando na faixa de R$ 30,00 a R$ 32,00 até pelo menos novembro, quando deve haver uma reação. A partir de julho é esperada a entrada mais forte da produção excedente do Mercosul no Brasil. A safra norte-americana também começa a entrar no mercado em agosto, agitando o mercado. O setor tem recomendado aos produtores bastante cautela na comercialização, afinal um movimento de oferta neste momento pode acelerar uma queda no mercado.