Arroz - Leilão vira arma para combater especulação
Data:
02/06/2008
O governo federal pretende continuar usando os estoques públicos de arroz para controlar o preço do produto, que está 68,6% superior ao mesmo período do ano passado. Desde que as intervenções estatais começaram, a cotação do cereal já caiu 4,2% no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional do grão. Até o momento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ofertou 276,2 mil toneladas de seus estoques para regular o mercado (98% comercializadas). A estatal tem outras 1,2 milhão de toneladas. "Não adianta quererem (os arrozeiros) manipular o preço. Por isso, a idéia é que não vamos sair do mercado", disse Rogério Colombini Moura Duarte, diretor de Gestão de Estoques da Conab. Ele admite, no entanto, que o governo possa rever a quantidade ofertada, assim como a periodicidade. Parte do setor produtivo pede a suspensão no mês de junho e outra, que sejam ofertadas 50 mil toneladas a cada 15 dias. De acordo com o diretor, as cooperativas gaúchas têm hoje 7 milhões de toneladas em estoque, segurando-as à espera de preços mais altos. O volume é superior à toda a safra 2007/08 do Rio Grande do Sul, estimada pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga) em 7,4 milhões de toneladas. "Está na hora de o governo parar ou espaçar os leilões porque se continuar jogando uma quantidade destas, termina o estoque em três meses e aí sim o mercado talvez dispare de uma maneira incontrolável", afirma o diretor-comercial do Irga, Rubens Silveira. Na sua avaliação, o governo poderia deixar o mercado absorver a quantidade ofertada em maio e não ofertar nada neste mês, retornando em julho de "maneira mais calma" -- 50 mil toneladas por quinzena - o que garantiria estoques até a entressafra. Silveira lembra que o governo não pode esquecer que o setor produtivo ficou quatro anos com preços abaixo dos custos de produção. "Parte da dívida que está sendo rolada agora é daquela época", diz. Segundo ele, se o preço cair muito, o arrozeiro não sentirá estímulo para a próxima safra. A instituição está calculando o custo de produção do próximo plantio. Mas, para a Conab, um valor entre R$ 27 a R$ 28 a saca (50 quilos) já remuneraria o arrozeiro. "Não podemos ficar de vilão desta história. O feijão subiu muito mais e o governo não fez nada", afirma Silveira. O diretor da Conab argumenta que a empresa não tinha estoque de feijão para intervir. Mas garante que esta política vai mudar. "Temos de ter o mínimo de segurança. Vamos perseguir isto". Na próxima quarta-feira, a cadeia produtiva estará reunida para discutir a continuidade das ações do governo. Crise externa O diretor da Conab afirma que o Brasil não pode "exportar uma crise externa". Isso porque os estoques mundiais do grão serão os menores desde 1984 - menos de 20% do consumo - elevando a cotação do cereal no mercado internacional. Parte da alta no Brasil seria decorrente disso, mas também porque o País começou a receber mais pedidos de exportação do produto. Na última sexta-feira, o cereal era cotado a R$ 34,08 a saca no Rio Grande do Sul. Para o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, a indicação é que o produto tenha alcançado "um ponto de equilíbrio". Ele acredita que a partir de agora, talvez o governo reduza a quantidade ofertada, e o preço mantenha-se estável. Isso porque, quanto menor for o estoque do governo, maior a possibilidade de a cotação do cereal subir. "O produtor ainda está escalonando, vendendo só para pagar compromisso imediato", afirma Bento. Na sua avaliação, até o momento, cerca de 20% da safra foi comercializada. Bento acrescenta ainda que como os ágios caíram ao longo do mês - chegaram a quase 30% no primeiro leilão, quando a oferta foi mais restrita, e 12% no último - talvez seja uma indicação de que as indústrias já estariam menos interessadas e mais abastecidas. O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz), César Gazzaneo, diz que o setor ainda não fez uma avaliação da continuidade ou não dos estoques do governo. Mas ele acredita que, além dos leilões, os preços atuais sejam uma acomodação em relação ao cenário internacional. Bento lembra que o governo ainda teria duas alternativas para o controle da inflação, com relação ao arroz: taxar as exportações ou reduzir a tarifa sobre importação.