Pela primeira vez, nos últimos quatro anos, o produtor de arroz do Rio Grande do Sul está vendendo a safra a preços médios acima do custo. Levantamento do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) mostra que 44,3% da produção gaúcha - estimada em 7,44 milhões de toneladas - já foi comercializada, a um valor médio de R$ 28 a saca (50 quilos), quando o custo foi de R$ 26. Mas a rentabilidade foi maior para quem resolveu vender depois que o governo anunciou que iria intervir no mercado. Do total, 16% foram negociados até o dia 22 de abril - a um preço médio de R$ 24 a saca, considerando o início da safra, 1º de março, segundo a Safras & Mercado. Até aquele momento, 80% da safra tinha sido colhida. O restante foi comercializado depois daquele dia, quando o governo anunciou que faria leilão de seus estoques, pois até ali a cotação do cereal - seguindo o embalo do mercado internacional - havia se valorizado, no mês, 32%, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Esses, obtiveram, em média, R$ 34 por saca, até 31 de maio (período do levantamento). Segundo a Safras & Mercado, no primeiro período de comercialização a valorização do preço do grão foi 28,5% e, no segundo, 13,6%. O presidente do Irga, Maurício Fischer, diz que o volume é superior a outros anos - apesar de a instituição não ter levantamentos anteriores. Opinião semelhante tem o secretário-executivo do Sindicato da Indústria Arrozeira do Rio Grande do Sul (Sindarroz), César Gazzaneo, lembrando que a venda nesta época ocorre para o pagamento de compromissos. "Muito arrozeiro fixou na parcela de vencimento", diz Fischer. "Quando o mercado sinalizou que ia cair, eles (produtores) venderam", diz o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento. Na sua avaliação, a partir de agora , com a menor oferta do governo - tinham sido quase 280 mil toneladas em maio e serão apenas 50 mil toneladas em junho - o preço deve se estabilizar. "A expectativa é que o mercado volte a atuar naturalmente", diz o presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha. Segundo ele, além do preço, o que fez com que a comercialização avançasse foi a necessidade de pagamentos de dívidas. Ele acrescenta também que a alta de abril acompanhou o cenário internacional - naquele mês, na Tailândia (que baliza o mercado), a valorização foi de 50% em relação ao anterior - e que, se isto não tivesse ocorrido, haveria uma entrada grande de produto do Mercosul que, junto com a colheita, derrubaria as cotações. A tese de analistas de mercado e do setor é que os países vizinhos passaram a vender para outros lugares, mais atrativos que o Brasil, diante de um preço internacional recorde, decorrente de menor relação mundial estoque e consumo (17%) desde 1984. Rocha diz ainda que o número do Irga "confirma a tese de que não havia especulação". Há uma semana, o diretor de Gestão de Estoques da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), Rogério Colombini Moura Duarte, afirmou que o setor estaria manipulando o mercado e que as cooperativas gaúchas teriam 7 milhões de toneladas em suas mãos, ou seja, quase toda a safra do estado. Ele não apresentou um levantamento estatístico que comprove seus números e questionou os dados do Irga. "Eles (arrozeiros) que provem que venderam. Para exportação que não foi e a indústria está abastecida com o governo. Se tivessem vendido tudo isso, o preço do arroz estaria lá embaixo", afirma. A estatal promete divulgar os estoques privados na segunda-feira.