As lavouras de trigo podem trazer um alívio na preocupação do governo com a recente onda de inflação dos alimentos no país. A COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) estima a colheita de 5,16 milhões de toneladas, um resultado 35% superior aos 3,82 milhões de toneladas da safra anterior. Mas o refresco virá somente em agosto, quando a produção nacional começa a ser processada. A previsão da CONAB, divulgada ontem, supera as estimativas iniciais do próprio governo, que espera uma elevação de 25% na produção nacional. Contribuíram para o avanço fatores como os baixos estoques mundiais, as perdas nas safras estrangeiras e a elevação da demanda que desembocaram em um forte aumento nos preços internacionais. A suspensão das exportações da Argentina e a elevação do preço mínimo de garantia também animaram os produtores a ampliar em 24% a área plantada, para 2,25 milhões de hectares. "Em 2007, os preços da tonelada de trigo estavam entre R$ 380 e R$ 400. Atualmente, as estimativas são de R$ 800", resume o economista Sílvio Farnese, coordenador da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. O nono levantamento da safra brasileira estimou uma colheita de 143,27 milhões de toneladas de grãos, fibras e cereais no atual ano-safra (2007/2008), que encerra-se em 30 de junho. O resultado supera em 8,7% a safra anterior de 131,75 milhões de toneladas ao agregar 11,5 milhões de toneladas à produção nacional - volume equivalente a uma safra inteira de arroz. Na última estimativa, feita em maio, a CONAB previa safra de 142,1 milhões de toneladas. A área plantada aumentou 1,9%, para 47,1 milhões de hectares. Foram 885 mil hectares adicionais nesta safra. O aumento de preços internacionais da soja e do milho, que significam quase 83% de toda a safra, e as boas condições climáticas foram os motivos apontados pela CONAB para o desempenho recorde da produção. A produtividade média das lavouras do país avançou 6,7% na comparação com o ciclo anterior. A produção total de milho deve aumentar 7,06 milhões de toneladas (+13,7%) nesta safra. A colheita deve atingir 58,43 milhões de toneladas com uma área extra de 659 mil hectares (+4,7%). O volume ficará próximo dos 59,85 milhões de toneladas de soja, ainda o carro-chefe da produção nacional. Nesta safra, o grão rendeu 1,46 milhão de toneladas (+2,5%) a mais do que no ciclo anterior em uma área plantada adicional de 546 mil hectares. Os dados da CONAB mostram que os primeiros vilões da inflação de alimentos também vão bater seus recordes. A safra de arroz deve fechar mesmo em 12,18 milhões de toneladas (7,7%) e as três safras de feijão devem somar 3,5 milhões de toneladas (5%).