No momento em que o mundo debate a crise dos alimentos, o Estado de São Paulo volta a investir fortemente na produção de trigo. No sudoeste paulista, principal região produtora do Estado, a área cultivada praticamente dobrou nesta safra em relação à anterior. Foram semeados 33 mil hectares, enquanto na safra passada a área plantada foi de 17 mil hectares. A área com triticale, espécie mais rústica de trigo, aumentou de 8.100 para 18.400 hectares, segundo o Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Itapeva. Para efeitos de seguro agrícola, o plantio do trigo foi prorrogado até o dia 15 de junho, informou o agrônomo Vandir Daniel da Silva, titular do EDR. A prorrogação ocorreu por causa do período de estiagem que atingiu o sudoeste paulista no fim de maio. As chuvas vieram na hora certa, segundo ele. “No último fim de semana tivemos 65 milímetros de chuva, garantindo a germinação do trigo plantado e assegurando novos plantios.” Em todo o Estado, o cultivo deve atingir pelo menos 50 mil hectares, com aumento ainda não dimensionado na área cultivada. Na produção, no entanto, é esperado um salto de até 20%, com o aumento na produtividade. O preço, considerado remunerador, e a escassez do grão no mercado agiram como estimulantes na decisão de plantio. Acordo Um acordo de cooperação entre os moinhos e os produtores, intermediado pela Secretaria de Agricultura do Estado, por meio do Departamento de Sementes e Mudas da Coordenadoria de Assistência Técnica e Integral (Cati), também contribuiu para estimular a produção. O moinho adquiriu a semente produzida pela secretaria e repassou ao produtor, com o compromisso de receber a quantidade em dobro na colheita. Além disso, o agricultor se comprometeu a vender pelo menos 50% da produção para aquele moinho. “O interesse foi tanto que esgotamos as sementes da secretaria”, disse o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo, Luiz Martins. Ele acredita que os produtores que aderiram ao acordo este ano vão repetir a dose na próxima safra e devem estimular outros produtores. “Se tudo funcionar bem nesta safra, a resposta será ainda melhor no futuro.” O diretor do Departamento de Sementes e Mudas da Cati, Armando Azevedo Portas, diz que a iniciativa já teve como mérito a aproximação entre o agricultor e o moinho, superando um distanciamento tradicional. “Os negócios nunca eram feitos diretamente entre as partes.” O acordo, segundo ele, oferece garantias para os dois lados, pois assegura a compra da produção por um preço de referência. Garante, além disso, a qualidade na produção, pois o moinho fornece as sementes da variedade adequada. O fato de o moinho fornecer a semente, que representa até 25% no custo da produção, desonerou o agricultor para investir mais na cultura. “Ele pôde adubar um pouco mais e investir em defensivos”, diz. Pequenos e médios Em Itapetininga e Capão Bonito, pequenos e médios aderiram a esse programa. O agricultor Tomishito Varikoda foi um dos que aderiram. No Sítio Santo Antonio, em Itapetininga, ele cultivou 75 hectares, quase a metade negociada com um moinho. “Como o preço está muito bom, acima de R$ 40 a saca, resolvi arriscar uma parte da lavoura.” Beneficiada pela chuva que caiu entre o fim de maio e início de julho, a lavoura está bem verde e ele tem a expectativa de boa colheita. Outros moinhos já procuraram o produtor. “Há três anos, precisávamos implorar para alguém comprar o trigo.” Apenas em Itapetininga, a área cultivada aumentou de 1.400 hectares na safra passada para 3.500 hectares nesta. De acordo com o agrônomo da Cati, Edgar Petisco, a procura pela semente foi tão grande que o produto se esgotou. Foi preciso recorrer a outras unidades de produção. “Vendemos mais de 18 mil sacas. Na safra anterior foram 4 mil.” Além da semente produzida pela secretaria, os agricultores compraram também o produto oferecido por empresas de outras regiões e do norte do Paraná. O agrônomo acredita que o melhor ainda está por vir. “Como os produtores investiram muito em tecnologia, esperamos produtividade elevada.” Na região, a colheita ocorre entre fim de outubro e começo de novembro.