Milho - Enchente fecha fábricas nos EUA e ameaça estoques mundiais
Data:
19/06/2008
No ano em que o estoque mundial de grãos é o mais baixo das últimas safras e a crise de alimentos impõe novas regras às relações comerciais, o fator climático desponta como um agravante nesse cenário. Os impactos negativos das mudanças climáticas na safra norte-americana, que já perduram por cerca de 60 dias, culminaram com a pior inundação no Estado do Iowa, que concentra a maior produção de milho e soja dos Estados Unidos, destruindo 530 mil hectares de milho e 810 mil hectares de soja, segundo a Iowa Farm Bureau Federation (IFBF). De acordo com Dave Miller, diretor de pesquisa e serviços de commodities da IFBF, 16% das áreas cultiváveis do estado estão submersas. Segundo Gabriel Pesciallo, analista da Agência Rural, a situação é bastante crítica. No caso da soja as vendas acumuladas até o último dia 5 - quando faltavam 12 semanas para terminar o ano-safra - (30,6 milhões de toneladas), já eram maiores que o volume de exportações que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) havia estimado até agosto (30,2 milhões de toneladas). "Ao longo desse ano os próximos relatórios de oferta e demanda vão aumentar os dados de exportação, mas o consumo não vai cair, ou seja, o estoque final vai cair e o preço vai lá pra cima", avalia Pesciallo. As últimas semanas já mostravam os efeitos da possibilidade da catástrofe sobre o mercado. As notícias da até então possível inundação fez os preços subirem e as usinas de etanol interromperem suas atividades. Ontem, quando a enchente já era um fato, foi a vez das empresas do setor de grãos anunciarem paralisações. A Cargill fechou sua planta no Iowa por tempo indeterminado e anunciou que não irá cumprir os contratos de entrega de xarope de milho firmados nessa unidade. A fábrica da ADM, localizada no mesmo estado, também parou, mas deve retomar as operações após 10 dias, data prevista para o nível da água se normalizar. Reflexos no Brasil Essa última enchente deve resultar numa redução de área superior a 1,5 milhão de hectares plantados com milho nos EUA, de acordo com Paulo Molinari, analista da Safras & Mercado. Os números de produção do grão no país vêm caindo sistematicamente. A diferença entre o número divulgado pelo USDA em sua primeira estimativa para essa safra e a última é de 10 milhões de toneladas. "Isso deve abrir mercado para o Brasil, mas corremos risco de perder parte da safrinha por causa da geada nos estados produtores", diz.