Argentina está exportando soja proveniente do Paraguai para cumprir contratos e ao mesmo tempo suprir a falta de estoques da leguminosa e seus derivados nos portos do centro-leste do país, devido ao locaute agrário de mais de 100 dias e que afeta o abastecimento de alimentos e insumos no mercado interno. "Estamos exportando apenas a soja que chega em barcaças do Paraguai e não dos campos argentinos como se faz normalmente neste período do ano", disse Patricia Bergero, subdiretora da Direção de Estudos Econômicos da Bolsa de Comércio de Rosário, 300 km ao norte de Buenos Aires. Bergero acrescentou que as grandes empresas com fábricas na zona portuária recebem o grão de soja paraguaio e o processam para transformá-lo em farinhas e óleos, setores nos quais a Argentina é líder exportador mundial. A Bolsa de Rosário mantém paralisadas suas atividades. Não foi registrada qualquer entrada de caminhões com cereais no porto nos últimos cinco dias, ante os 4.500 em igual período do ano passado, o que ameaça ainda mais o cumprimento dos prazos das vendas externas. "A Argentina já está cumprindo os contratos de venda de farinha de soja com a União Européia, e de óleos e grãos de soja com a China e outros países asiáticos", disse Bergero, calculando milionárias perdas para o setor nos próximos meses por falta de estoque. China e Índia estão entre os principais destinos da soja argentina, e seu lucro milionário motivou o mais grave protesto agrário da história do país em março passado, quando produtores se rebelaram contra um esquema de tributos a exportações de grãos, por considerá-lo confiscatório. Preços em alta O preço dos cereais, dos produtos panificados, dos doces e do frango vão subir este ano mais que o previsto um mês atrás devido à aceleração dos custos dos grãos e dos combustíveis, disse o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). A alta anual dos cereais e produtos panificados será de 9% a 10%, em relação à faixa de 7,5% a 8,5% prevista em maio. Se concretizada, será a maior elevação desde 1980, disse o USDA em relatório a ser divulgado amanhã. A estimativa não reflete os danos causados pelas enchentes às lavouras do meio-oeste norte-americano, que entrarão no relatório de julho, disse o USDA. As varejistas estão repassando a alta dos preços aos consumidores, num momento em que a demanda mundial por alimentos impulsiona as exportações dos EUA. A produção está prejudicada pelas más condições climáticas e um maior volume de produtos agrícolas é canalizado para a produção de combustível, disse o USDA.