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Registro - Argentina investigará exportação de grãos
Data: 26/06/2008
 
Governo afirma querer saber como, apesar de locaute, vendas ao exterior cresceram em volume e lucratividade neste ano
Produtores rurais dizem que negócios foram feitos antes de protesto e em período de trégua e que renda maior veio por aumento de preços
O governo argentino anunciou ontem que vai abrir uma investigação para descobrir por que a exportação de grãos aumentou nos primeiros cinco meses deste ano apesar do locaute agropecuário, que decretou a suspensão dessas vendas.
A Presidência divulgou ontem, nos principais jornais do país, anúncio oficial afirmando que o locaute, apesar de ter como motivação principal justamente o protesto contra o aumento dos impostos sobre exportações de grão, foi na realidade voltado contra as vendas internas, já que, nos cinco primeiros meses do ano, foram exportadas 28,8 milhões de toneladas de grãos e derivados, 893 mil a mais do que no mesmo período de 2007.
Segundo o comunicado, intitulado "Todo argentino tem o direito de estar informado", os exportadores receberam 63% a mais por essas vendas em comparação ao mesmo período do ano passado, já descontados os impostos sobre as exportações.
"O forte crescimento dos embarques ao exterior dá conta do excelente momento que vive o setor", diz o informe. "O protesto e a conseqüente escassez de alimentos quem padeceu fomos todos os argentinos."
Reação ruralista
A crise entre o campo e o governo começou em março, quando foi decretado o aumento dos impostos, considerado "confiscatório" pelos produtores rurais.
Em protesto, os ruralistas decretaram um locaute que consistia principalmente na suspensão da venda de grãos ao exterior, mas também no bloqueio de caminhões com alimentos nas estradas e conseqüente desabastecimento.
Por meio de comunicado, o Escritório Nacional de Controle Comercial Agropecuário anunciou que encontrou "manobras irregulares na emissão e utilização de cartas de porte [que autorizam a exportação], que revelam a existência de um tráfico paralelo no comércio de grãos" e pediu uma profunda investigação do caso.
O presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, um dos líderes do locaute, afirmou que a denúncia faz parte de uma "operação suja de perseguição política por parte do governo", mas que os ruralistas não temem a investigação.
Segundo as entidades agropecuárias envolvidas no conflito, o aumento das exportações corresponde à trégua decretada durante a crise e ao período que antecedeu o início do locaute, em 11 de março: nos cinco primeiros meses do ano, só 43 dias foram de locaute.
Nesse período, segundo especialistas, os ruralistas teriam otimizado a logística de venda para aproveitar a trégua. O aumento nos lucros corresponderia não ao aumento do volume de exportações, mas à valorização do preço dos grãos no mercado internacional.
Cota descumprida
Ainda ontem, foi divulgado que a Argentina não cumprirá pela primeira vez em 30 anos a chamada cota Hilton, pela qual exporta seus melhores cortes de carne bovina para a União Européia.
Devido ao conflito com o campo, quando o país interrompeu as vendas de carne e caminhões com o alimento ficaram bloqueados em estradas, o país deixaria de vender 2.000 toneladas e registraria uma perda de cerca de US$ 40 milhões. Nas cidades, o abastecimento de carne começa a se restabelecer, mas ainda faltam alguns cortes e o preço do alimento está cerca de 20% mais caro do que antes da crise. Praça do Congresso reúne dois lados do conflito DE BUENOS AIRES O encaminhamento ao Congresso, na semana passada, do projeto de lei do governo de Cristina Kirchner que aumenta os impostos sobre as exportações de grãos mudou o foco do conflito na Argentina da Casa Rosada para a sede do Poder Legislativo. Hoje, a praça em frente ao Congresso já é chamada de praça das sete barracas. Ali, movimentos kirchneristas instalaram seis tendas para manifestarem seu apoio à proposta do governo. O setor agropecuário tem uma barraca, no lado oposto da praça. Antes separados pela distância entre a cidade e o campo, agora os dois grupos fazem seus protestos a poucos metros um do outro. A barraca do campo é a única que tem permissão oficial da Prefeitura de Buenos Aires para ser fincada no local. Os manifestantes que apóiam o governo se instalaram e dominaram a praça no fim de semana. Quase foram expulsos, mas uma decisão judicial proibiu que fossem desalojados. Em meio à batalha pela atenção dos congressistas e de quem passar pela praça, os dois grupos compartilharam um momento de paz anteontem, quando disputaram uma partida de rúgbi a convite de um canal de TV. Mas, como no conflito, não houve vencedor na partida: o placar foi 0 a 0, mas as equipes ao menos trocaram as camisas no fim do jogo. Touro x pingüim Na tarde de ontem, a atração na barraca dos ruralistas era o carismático líder da Federação Agrária de Entre Ríos, Alfredo de Angeli, que, com discursos à beira das estradas, virou uma espécie de ídolo nacional. Enquanto o Alfredo original discursava dentro da tenda, atraindo madames e mendigos, quem não conseguia entrar tirava fotos com a homenagem a ele, um touro inflável de cerca de cinco metros de altura, batizado "Alfredito". Para contra-atacar, representantes do movimento de jovens peronistas La Cámpora apareceram vestidos de ovos e prometeram para a noite trazer seu próprio mascote, um pingüim inflável chamado Néstor, em homenagem ao ex-presidente Néstor Kirchner. Os kirchneristas prometem um ato na praça para amanhã. Enquanto isso, a apreciação do projeto na Câmara de Deputados passa por incidentes porque todos os grupos querem participar da discussão. Ontem, a reunião teve de ser suspensa por algumas horas porque produtores rurais e legisladores se empurravam na disputa por um lugar na sessão. (AK)

Fonte: Folha de São Paulo
 
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