Trigo - Lula cobra fim de restrição à venda de trigo argentino
Data:
01/07/2008
Com a decisão já tomada de antecipar o cronograma de construção da hidrelétrica binacional de Garabi, na fronteira do Brasil com a Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá cobrar hoje de Cristina Kirchner a regularização dos embarques de trigo ao País. Em paralelo à 35ª Reunião de Cúpula do Mercosul, nesta manhã, em San Miguel de Tucumán, na Argentina, Lula e a presidente do país vizinho tentarão também limar outras diferenças que têm desgastado a relação bilateral. O brasileiro vai cobrar as razões de um “papelão” da Argentina na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) - a contestação pública da posição do Brasil sobre a abertura de mercados industriais, que favoreceria uniões aduaneiras como o Mercosul. A hidrelétrica binacional, somada aos investimentos produtivos brasileiros na Argentina nos últimos anos, tornou-se uma espécie de escudo do governo Lula contra medidas protecionistas de Buenos Aires. Na semana passada, em uma reunião de monitoramento das obras prometidas pelo Brasil à vizinhança sul-americana, o próprio presidente Lula ordenou que as obras de Garabi fossem antecipadas. Projeto dos anos 80, a usina binacional no Rio Uruguai implicaria investimento de US$ 1,5 bilhão a US$ 1,7 bilhão e elevaria em 9% o total de energia disponível na Argentina. Seria, portanto, um alívio a um país que padece de escassez de energia desde 2004. Com essa carta na manga, Lula espera, pelo menos, afrouxar as restrições impostas pelo governo Kirchner às exportações de trigo ao mercado brasileiro. Desde dezembro, a Argentina autorizou o embarque de apenas 2 milhões de toneladas ao Brasil. Desse volume, 1 milhão de toneladas estão sujeitas a controles do governo, que libera as vendas a conta-gotas. Nesse período, o Brasil abriu duas cotas para a importação, com tarifa zero, de trigo do Canadá e dos Estados Unidos. Mas essa perda do mercado brasileiro para concorrentes diretos da Argentina não foi suficiente para demover Cristina. Essa resistência deixou o Brasil em uma situação praticamente sem saída - a não ser aumentar a produção interna, que será alvo de um pacote a ser anunciado amanhã pelo presidente Lula, em Curitiba. O mercado brasileiro consumiu 10,25 milhões de toneladas de trigo no ano passado. Desse total, 6,6 milhões de toneladas foram importadas - 5,63 milhões de toneladas da Argentina. O tema, entretanto, deverá ser tratado com alguma cautela pelo presidente Lula. “Tratamos essa questão com cuidado, habilidade e sensibilidade. Não queremos que contamine a relação bilateral”, afirmou uma fonte do Itamaraty.