O Brasil terá de lidar com um déficit de 1,5 milhão de toneladas de trigo para abastecer o mercado interno até o fim do ano. De onde virá o grão é uma pergunta cuja resposta dependerá dos humores do governo argentino, que restringiu as exportações. A conta é simples: o consumo atual do produto, no País, é de quase 10,5 milhões de toneladas, diante de uma produção local em torno de 5 milhões de toneladas. Do país vizinho, por enquanto, devem chegar apenas 2 milhões de toneladas. Por aqui, o governo decidiu autorizar a importação de outros 2 milhões de toneladas dos Estados Unidos e do Canadá, excepcionalmente livres de impostos. A alta do grão é responsável por aumento de 23% no preço da farinha de trigo de janeiro a maio. O pão francês, no mesmo período, ficou 19,38% mais caro, de acordo com os dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Mas a armadilha do trigo é ainda mais intrincada. As medidas de incentivo ao aumento da produção doméstica da commodity, anunciadas na quarta-feira 2 pelo governo federal, não vão surtir efeito sobre a colheita deste ano. Chegaram depois da época de plantio, explica o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Luiz Martins. "Ainda não será agora que vamos deixar de depender tanto do humor dos Kirchner e da burocracia da Receita Federal para ter acesso à matéria-prima", afirma. Apesar do peso da cadeia do trigo sobre a inflação - o pão francês foi apontado como o principal vilão do aumento de preços em abril -, os dados da Abitrigo mostram que o brasileiro utiliza pouco o grão. Segundo a entidade, o consumo médio de pão por habitante é de 27 quilos ao ano no País, enquanto na Argentina chega a 65 quilos anuais. "A Organização Mundial da Saúde recomenda um mínimo de 60 quilos de pão por habitante ao ano", afirma Martins.