Manifestações pró e contra governo pressionam o Senado, que debate imposto de exportação Milhares de manifestantes, pró e contra o governo, mediram forças ontem em protestos por todo o país nas vésperas de uma decisão do Senado, que hoje debate a polêmica lei que sobretaxa as multimilionárias exportações de grãos. Peronistas mobilizados pela sindicalista Central Geral dos Trabalhadores e moradores das superpovoadas periferias de Buenos Aires, bastiões históricos do partido, uniram-se a organizações sociais de piqueteiros e desempregados em apoio à presidente Cristina Kirchner. - Apoiemos a democracia contra os desestabilizadores. Queremos redistribuir as riquezas com as taxações - exortou o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), que ontem foi orador oficial do ato governistas em frente ao Congresso. O kirchnerismo - peronismo social-democrata - tem maioria no Senado para ratificar o projeto de lei que permite à União arrecadar algo entre US$ 11 milhões e US$ 24 milhões da colheita de soja - o equivalente ao lucro obtido com o aumento do preço da commodity no mercado internacional. Descontentamento No entanto, quase toda a oposição liberal, direitista, esquerdista e social-democrata radical se concentrava ontem em um ato que junto às grandes patronais agropecuárias formaram uma multidão em torno do Monumento aos Espanhóis, nos parques de Palermo. Moradora da área, a classe média, que votou em massa contra Cristina em outubro, deu amplo respaldo ao protesto. Ao motim em Palermo se somaram peronistas dissidentes do kirchnerismo fiéis ao ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003) e uma fração da CGT que estava ligada ao ex-mandatário peronista liberal Carlos Menem (1989-1999). José de la Sota, um dos líderes peronistas dissidentes, disse que a Argentina pode produzir uma colheita de 150 milhões de toneladas de grãos no ano que vem - 50% a mais do que este ano - se optar por adotar uma política agropecuária. - Em vez de brigar com o campo, o governo teria de ter planteado o debate sobre como produzir 150 milhões de toneladas no ano que vem, já que sem política agropecuária, quase chegamos aos 100 milhões - criticou Sota, que passou à oposição no início do conflito. O peso da lei se explica pelo fato de a Argentina ser o primeiro exportador mundial de farinha e azeite de soja, o segundo de milho, o terceiro em grãos de soja e o quarto de trigo, segundo a secretaria de Agricultura dos Estados Unidos. As exportações de grãos e agroindustriais alcançaram este ano US$ 35 milhões, mais de 50% do total das vendas ao exterior. O objetivo do governo é diminuir a pressão sobre o cultivo de soja, considerado o "ouro verde" do país no século 21, além de regular preços internos dos alimentos frente a uma crescente inflação - ainda que o governo admita que esta é menor de 10% anual, uma estimativa amplamente contestado por analistas e consumidores. Desafio Os Kirchner se negavam a frear o crescimento de 8% a 9% anual que se acumulava desde 2003, como recomendavam consultoras neoliberais e o FMI para controlar a inflação. Mas, com a crise agrária, a economia sofreu um baque. - O campo teve muito lucro, mas tem de oferecer uma contribuição equilibrada ao país - avaliou Juan Zanola, um dos chefes sindicalistas da CGT. A decisão do governo de sobretaxar o lucro da exportação de grãos desencadeou em março a rebelião dos produtores agrários. Mas só no mês passado, Cristina decidiu enviar o projeto de lei para avaliação no Congresso, medida com a qual visava legitimar a mudança imposta pelo Executivo. Aprovado dia 6 na Câmara dos Deputados, o projeto só precisar passar hoje pelo Senado. - Há um ânimo na sociedade para encerrar este ciclo do conflito. É preciso deixar que o Parlamento conclua hoje este extenso e traumático período de 120 da história argentina - declarou Eduardo Sigal, subsecretário de Integração Econômica da chancelaria.