O mercado de commodities agrícolas atingiu ontem uma das maiores volatilidades do ano. Quase todos os grãos fecharam o dia em limite de baixa na Bolsa de Chicago (CBOT). O complexo soja e o milho foram os mais atingidos. "O petróleo puxou muito forte o óleo de soja, que bateu limite de baixa, empurrando também farelo e grão para o fundo do poço", avalia Flávio Roberto de França Júnior, analista da Safras & Mercado. Além disso, segundo ele, o recuo nos grãos tiveram como pano de fundo a melhora do clima e das condições da lavoura nos Estados Unidos. Depois de bater acima de US$ 16 há um pouco mais de um mês, o primeiro contrato de soja retornou ao patamar de US$ 12 o bushel, não visto desde o início de maio. Assim, os papéis com vencimento em setembro encerram o pregão de ontem em US$ 12,8550 o bushel, queda de 5,16% e só maior que os US$ 12,64 registrados em 6 de maio. "Assim como estão ocorrendo com as outras commodities, não há alteração em fundamentos de oferta e demanda que justifiquem esses fortes recuos. O motivo é a crise financeira", acrescenta. O contrato (setembro) de óleo de soja também fechou em 54,33 centavos de dólar a libra-peso, 4,3% de recuo, e o do farelo (setembro) em 348,40 centavos de dólar a tonelada curta, queda de 5,4%. "Os preços dos grãos estavam muito inflados, assim como os do petróleo. Com esse movimento de acomodação do combustível, há tendência de os produtos agrícolas também retornarem aos níveis normais". Outra queda expressiva ontem foi no cacau, cujas cotações recuaram 6,9% para US$ 2.810 a tonelada. Thomas Hartman, consultor da TH Consultoria e Estudos de Mercados, também garante que essas fortes oscilações pelas quais a commodity tem passado desde o início do ano não tem relação nenhuma com fundamentos. "Na última sexta-feira, o cacau teve alta explosiva, a maior dos últimos 20 anos. E hoje (ontem) o efeito foi contrário. Os maiores prejudicados são as indústrias de chocolate que estava mal compradas e agora estão totalmente suscetíveis a essas oscilações", avalia o especialista. Ele espera uma redução dessa volatilidade a partir de outubro, quando começa a entrar grandes quantidades de cacau da safra africana. Já o açúcar, que teve forte alta de 10% na semana passada, teve ontem correção de 4,9% com a turbulência dos mercados. Mário Silveira, consultor de gerenciamento de risco da FCStone, avalia que os fundamentos mais positivos para a commodity em 2008 trouxe correções mais amenas ontem. "Acho que o ajuste foi mais agressivo para as outras commodities, pois os preços do açúcar estão mais ajustados aos custos de produção, diferente de soja e milho, cujas cotações estavam muito infladas", avalia.