A Bunge Alimentos anunciou ontem a compra do negócio de moagem de trigo e comercialização de farinha da multinacional americana Cargill. A aquisição foi fechada por R$ 33 milhões e inclui, além do moinho de Tatuí (SP), os três centros de distribuição da americana. A Bunge, que é líder com cerca de 20% do mercado de farinha do País, vai abocanhar, a princípio, os 3% de participação da até então, concorrente. A empresa não divulga os números absolutos de seu processamento de trigo. Mas, na safra 2007/08, encerrada em julho, as indústrias brasileiras moeram 9,6 milhões de toneladas do cereal, o que resultou na produção de 7,2 milhões de toneladas de farinha. Em comunicado, a Cargill confirmou a venda e explicou que foi determinante na decisão a necessidade de "elevado investimento para alcançar escala competitiva". "Trata-se de um setor com tendência à concentração, pois precisa de muita escala, uma vez que possui margens apertadas. Principalmente em tempos de alta volatilidade da commodity e dificuldade de repassar alta de custos ao consumidor", avalia Raul Beer, sócio da área de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers. É a segunda vez no ano que a Cargill se desfaz de alguma área de negócios. Em maio, a empresa vendeu a Cargill Nutrição Animal Ltda para o grupo francês Evialis, um dos maiores produtores de ração do mundo. Neste ramo, a multinacional americana também não tinha grande market share. O mercado estima que não estava nem entre as dez maiores. Há três anos, ocorreu o inverso. A necessidade de direcionamento de negócios culminou na venda, pela Bunge, da Seara Alimentos para a Cargill. Com a aquisição da divisão de trigo a Bunge reforça sua liderança, segundo Adalgiso Telles, diretor de comunicação corporativa da empresa. "Somos o primeiro em fornecimento de farinha e pré-mistura para panificação". O moinho de trigo de Tatuí é considerado um dos mais modernos do Brasil, ao contrário da unidade da Bunge em Santos (SP), datada de antes de 1905, quando a empresa o adquiriu ao entrar no Brasil. "Tatuí está estrategicamente posicionado para moagem de trigo nacional e importado. Os centros de distribuição estão localizados em Salvador (BA), Goiânia (GO) e Brasília (DF). No começo desta década, a Bunge iniciou nova reestruturação dos negócios e, no caso do trigo, culminou no redirecionamento estratégico para o business to business (B2B). "Tínhamos marcas que chegavam no varejo, até 2003 e 2004, que foram negociadas com o grupo J. Macedo, que em troca, nos vendeu o B2B deles em trigo. "A aquisição dos negócios da Cargill vem atender esse foco", afirma Teles. Bunge e o trigo Foi nesse ramo que a Bunge entrou no Brasil, em 1905, com participação minoritária do capital da S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais. A atividade motivou o surgimento de outros negócios, como o têxtil (Santista Têxtil), a partir da necessidade de produção de sacos de pano para armazenar farinha. Foi o início de uma rápida expansão no País, com a aquisição de diversas empresas nos ramos de alimentação, químico e têxtil, entre outros. Nos anos 90, já eram mais de 130 empresas, perfil que foi reestruturado para os atuais três pilares de atuação: Fertilizantes, Agribusiness (originação) e Food Products (industrialização, comercialização e processamento).