Após ter batido por volta de R$ 35 a saca de 60 quilos no fim do ano passado, o preço do milho parece ter iniciado o caminho de volta ao nível de preços históricos, entre R$ 18 e R$ 20 a saca. No início de agosto, ele já estava cotado em R$ 24, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), trazendo alívio aos principais consumidores do cereal: os setores de avicultura e suinocultura. Com a entrada da safrinha, em plena colheita, a perspectiva de reposição de perdas para ambos os setores é mais animadora. Passada a tempestade, porém, os avicultores e suinocultores começam a encontrar soluções para não depender tanto do esquema "da mão para a boca". "Agora, além dos avicultores, teremos também produtores de milho em regime de integração", diz o gerente industrial da Korin, Luiz Carlos Demattê. A empresa, produtora de frangos de corte e ovos em Ipeúna (SP), produz 1.200 toneladas de ração - composta por 70% de milho -, distribuídas mensalmente aos integrados, produtores de frangos. Economia mensal "A saca de milho na nossa região chegou a R$ 33,30, entre fevereiro e março", diz Demattê. "Tivemos de comprar a este preço, não teve jeito." Agora, com a baixa no preço do milho, Demattê já calculou sua economia mensal em relação ao que estava pagando há cerca de um mês: R$ 28 mil. Com a integração entre a Korin e os produtores de milho, Demattê acredita que será possível fugir de oscilações tão fortes de preços do principal insumo utilizado na granja - são de 700 a 750 toneladas de milho consumidas por mês na fábrica de ração. "Pagaremos preço de mercado, mas será mais fácil negociar valores, já que daremos garantia de compra." O pesquisador do Cepea, Lucilio Alves, acrescenta que outra boa saída para o avicultor e o suinocultor não ficarem tão à mercê de oscilações bruscas de preços é fechar contratos antecipados de compra, para fixar um preço que seja compensador tanto para o produtor quanto para o agricultor. Patamar adequado "A negociação fica num patamar adequado para ambas as partes", diz Alves, acrescentando que, para se garantir, ideal é fazer contratos antecipados, mas que estejam vinculados a algum sistema de hedge junto às bolsas de mercados futuros. "Os bancos oferecem uma série de alternativas para proteger o produtor dessas oscilações", afirma Alves. A Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS) também tem alertado os produtores sobre formas de se proteger de novas altas. "O mercado futuro será ferramenta fundamental para os criadores se protegerem", diz o presidente da APCS, Valdomiro Ferreira Júnior. Ele aponta como vantagem da negociação via bolsa a possibilidade de reduzir riscos. "O produtor tem como se programar, porque o mercado físico é mais suscetível a oscilações." Na BM&F, é possível fixar um bom preço de compra, "protegendo" o valor da mercadoria, ou fazendo "hedge". Menos vendas externas e safrinha farta Esses foram os motivos principais para a queda das cotações internas do milho, cuja saca está valendo R$ 24. A queda das exportações de milho, aliada à entrada de uma farta safrinha e o aumento dos estoques oficiais do cereal explicam a baixa dos preços internos do milho. O cereal é o principal componente da ração que alimenta aves e suínos. Entre janeiro e junho deste ano, o Brasil exportou 2,9 milhões de toneladas de milho, 300 mil a menos do que no mesmo período do ano passado. "O dólar baixo e a baixa demanda externa pelo cereal, que vinha substituindo a falta internacional de trigo, são os principais motivos de redução das exportações", diz Lucilio Alves, do Cepea. "Além disso, o cultivo maior da safrinha foi estimulado pelos bons preços na época de plantio, em 2007." Com isso, segundo estimativa da CONAB, a safrinha deste ano deve ser 25% maior do que a do ano passado, passando de 14,773 milhões de toneladas para 18,392 toneladas, o que também permitirá o recuo das cotações. Com a boa safrinha e exportações em queda, a CONAB calcula, também, que o estoque de passagem para 2009 deve ficar em 9,5 milhões de toneladas, o maior da história do setor, contribuindo para que os preços retornem aos patamares históricos. Recuo Na região de Sorocaba, interior de São Paulo, o preço do milho colocado nas granjas recuou de R$ 28,50 em meados de julho para R$ 25,50 na última segunda-feira. Para o produtor, nas lavouras da região de Itapeva, o preço caiu de R$ 26,50 para R$ 22. Alguns produtores tinham conseguido vender até a R$ 28, segundo o agrônomo Vandir Daniel da Silva, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento paulista. O proprietário da Granja Roseira, Alcides Pavan, atribui a redução nas exportações brasileiras à queda na cotação internacional da commodity. O preço do milho caiu na Bolsa de Chicago e a venda no mercado interno se tornou mais atraente, segundo ele. Importante produtora de suínos e aves da região de Laranjal Paulista, a Roseira não é auto-suficiente em milho e recorre ao mercado para se abastecer. "Chegamos a pagar até R$ 30 a saca, mas agora estamos comprando por R$ 25,50, posto na granja." Pavan espera que o preço se mantenha nesse patamar. "Se cair muito, desestimula o produtor." Já o encarregado da granja de suínos da Associação Anália Franco em Itapetininga, Paulo César Pires, acompanha sem preocupação a queda no preço do milho. A granja é abastecida com produção própria do grão. "Temos um estoque de 20 mil sacas, suficientes para manter o criatório com 1.600 suínos até a próxima safra."