Trigo - Cultivo de trigo "rouba" espaço de outras lavouras no país
Data:
21/08/2008
A cultura de trigo no Brasil, antes colocada em segundo plano, começa a ocupar espaço de outras lavouras no país. Em Goiás e São Paulo, o trigo avançou sobre lavouras dedicadas ao feijão. No Paraná, o cereal travou uma disputa com o milho de segunda safra, a chamada "safrinha", mas as duas culturas expandiram-se em áreas de menor expressão, como as de aveia destinada à cobertura vegetal. Nos Estados do Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, o trigo não teve muito espaço e apenas alternou com rotação de cultura com outros grãos. Nesta safra, a 2008/09, o trigo ocupa uma área de 2,35 milhões de hectares, um crescimento de quase 30% em comparação com o ciclo anterior, de acordo com a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). O maior plantio no país reflete a forte demanda global pelo cereal, a intenção do Brasil de reduzir sua dependência das importações e também a maior "segurança" da cultura. Na comparação com o feijão, por exemplo, o trigo leva vantagem por oferecer a possibilidade de hedge de preços, já que não há mercado futuro de feijão. "O feijão é uma cultura muito sensível e não há garantia nenhuma de que se vai conseguir o preço atual no momento da colheita. O trigo é mais seguro", diz Alécio Maróstica, produtor de Cristalina (GO) que converteu pivôs de feijão irrigado para trigo. Em Goiás, que cultiva trigo irrigado, o cereal também leva vantagem por ser totalmente mecanizado. O feijão depende de uso intensivo de mão-de-obra, diz o produtor. No Estado, a área de trigo deve crescer quase 90%, passando de 9,3 mil hectares para 17,6 mil hectares. A estimativa é de crescimento de 94,7% na produção, para 82,4 mil toneladas. A área total de feijão deve cair 30,9%, de 130 mil para 89,9 mil hectares. O plantio de trigo em pivôs de feijão irrigado em Goiás ocorre principalmente nas regiões mais próximas do Distrito Federal, caso de Cristalina. Além do momento de mercado mais propício para o trigo, o avanço da cultura ocorre por um fator técnico. "Depois de três safras de plantio em um mesmo pivô, as doenças começam a aparecer com mais força", diz Maróstica. "Os custos com insumos acabam crescendo muito e a produtividade não responde à altura". Em São Paulo, a área para o trigo saltou de 40,82 mil hectares para 75,23 mil hectares em 2008, um aumento de 84%, segundo dados da secretaria de Agricultura do Estado. O maior avanço ocorreu na região entre Itapetininga e Itararé, com clima mais frio, pouco propício ao milho safrinha, informou o engenheiro agrônomo Edegar Petisco, da secretaria de Agricultura de São Paulo. Nessas regiões, o trigo tomou um pouco do espaço do feijão (sequeiro e irrigação). "Mais do que roubando as áreas de outras culturas, o trigo está recuperando parte de seu espaço", diz Margorete Demarchi, técnica do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura do Paraná. No Estado, pólos como os dos municípios de Cornélio Procópio, Ponta Grossa e Cascavel registram neste ano o cultivo de trigo em áreas de culturas usadas como cobertura verde, como a aveia. Boa parte da empolgação dos produtores de trigo do país ocorreu por conta da forte alta dos preços internacionais do cereal entre o fim do ano passado e início deste ano. Mas os produtores plantaram "na alta e vão colher na baixa". Na semana passada, os preços do cereal caíram 20% em comparação com o mesmo período de 2007, informou a consultoria Safras&Mercado. No Paraná, as cotações estavam entre R$ 540 e R$ 550 por tonelada. No Rio Grande do Sul, entre R$ 490 e R$ 500 a tonelada. Na época do plantio, o cereal estava cotado em torno de R$ 750. Segundo Élcio Bento, da Safras&Mercado, não há negócios em andamento neste momento porque a colheita está bem no início. No Paraná, maior produtor do país, nem 10% da produção foi colhida. "As chuvas atrapalharam os trabalhos e comprometeram a qualidade do produto." Com uma produção estimada em 5,4 milhões nesta safra, um aumento de 38,5% em comparação com o ciclo anterior, o Brasil, um tradicional importador de trigo, deverá embarcar cerca de 800 mil toneladas. Se confirmadas as perspectivas, será um aumento de 26% em relação às vendas no mercado externo registradas no ano passado. A produção estimada de 5,4 milhões de toneladas representa mais da metade da demanda nacional, de cerca de 10 milhões de toneladas.