Arroz - Indústria do arroz deixa o Centro-Oeste rumo ao Sul
Data:
04/09/2008
Dez anos depois, o sonho acabou. O Eldorado do arroz em Mato Grosso não se concretizou e o fluxo migratório se inverteu: as indústrias que foram do Sul para o Centro-Oeste voltaram ou trouxeram parte da linha de produção. Outras, daquela região, instalaram filiais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, atrás da matéria-prima que ficou escassa no cerrado, ou até no chamado "Mapito" - área que congrega os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Naquele final da década passada, indústrias do Sul do País migraram de olho em um mercado promissor: Mato Grosso tinha passado de uma safra de 690 mil toneladas (1996/97) para 1,7 milhão de toneladas (1998/09). Acreditando na oferta de matéria-prima e na redução do frete para atender aos mercados do Nordeste e Centro-Oeste, as empresas arrendaram fábricas e investiram em instalações. Com isso, o estado chegou a ser o segundo maior produtor do cereal - 2 milhões de toneladas na temporada 2004/05 e 260 indústrias. Atualmente é o quarto no ranking nacional, com 680 mil toneladas e apenas 28 indústrias. "O arroz foi o voltou. Naquela época era a bola da vez. E acabou dando no que deu", diz Carlos Cogo, diretor da Cogo Consultoria Agroeconômica. . "Muitas indústrias, diante da escassez de oferta de matéria-prima estão vindo para o Sul", diz o analista de Mercado do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Tiago Barata. É o caso da Tio Ico - de Mato Grosso - que arrendou uma unidade em Viamão (RS). Joel Gonçalves, presidente da empresa e também do Sindicato da Indústria de Mato Grosso (Sindarroz/MT), diz que está estudando investir no Rio Grande do Sul. "Vou ficar no Sul para atender meus clientes do Sudeste, que é mais barato", afirma - ele procura uma área onde instalar a empresa, avaliando a produção e a logística. A Tio Ico benefica 350 mil fardos (30 quilos) no Sul e outros 900 mil fardos no Centro-Oeste. Para Gonçalves, muito mais que a queda na produção, foi a logística a principal responsável pela debandada das empresas de Mato Grosso - apesar de que grande parte das que voltaram afirmarem que foi a escassez de matéria-prima. Ele lembra que muitas migraram para o Nordeste do País, a oferta de matéria-prima tem crescido. "A produção vai crescer lá (no Mapito) porque eles demandam muito arroz de fora, mas a ida das indústrias será em ritmo mais lento", acredita Cogo. Uma grande indústria do Sul que se instalou em Mato Grosso no início desta década, que prefere não ser identificada, optou por uma "volta moderada": desativou uma das linhas de produção naquele estado, transferindo o maquinário para as unidades sulistas. Opera agora apenas com um tipo de produto em Mato Grosso, que atende o Norte. Outra que deixou o estado foi a Blue Ville - ficou cinco anos. O diretor-comercial da empresa, Silmar Fernandes, diz que não se arrepende. "Foi uma oportunidade boa na época", afirma. Segundo ele, a indústria chegou a procurar terreno para ter unidade própria, mas percebeu que a expansão da lavoura não ia ser contínua. A solução foi abrir centros de distribuição e empacotamento no Nordeste, para onde envia o cereal por cabotagem. "O arroz de sequeiro muda muito, se um ano não dá preço bom, o produtor planta outra cultura, é diferente do Sul do País, onde é irrigado e não tem outra opção", afirma Fernandes. É por isso que, apesar do crescimento da produção do Mapito, a empresa não pensa ter beneficiamento no Norte e Nordeste. "Várias foram experimentar e voltaram", diz o secretário-executivo do Sindarroz/RS, César Gazzaneo. Na sua avaliação, o que ocorreu em Mato Groso é que o arroz era abertura de área e, à medida que outras culturas ficaram economicamente mais interessantes, foi trocado. "O arroz ficou relegado e não houve aquele Eldorado que todo mundo esperava", conclui. O resultado é que, pelos cálculos do presidente do Sindarroz/MT a capacidade ociosa das indústrias no estado atualmente é de cerca de 60% - as instalações poderiam beneficiar 1 milhão de toneladas. Intervenção Em reunião ontem, durante a 31ª Expointer, em Esteio (RS), o governo e a cadeia produtiva decidiram que a próxima operação de venda dos estoques governamentais será no dia 16 de setembro, com a oferta de 50 mil toneladas de arroz do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Outros dois leilões serão realizados nos dias 1º e 15 de outubro. Uma nova reunião está marcada para o início do próximo mês.