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Safra - Banco estrangeiro fecha porta aos grandes
Data:
01/10/2008
Os bancos internacionais fecharam as portas para a elite da agricultura brasileira. Grandes produtores que foram buscar financiamento já pré-aprovado nos bancos estrangeiros voltaram de mãos vazias ou com apenas parte do dinheiro para plantar nesta safra. São empresários rurais que eram clientes dessas instituições há mais de cinco anos e agora estão vendendo seus estoques às pressas - e com deságio - para concluir o custeio da safra. A escassez do dinheiro a esse público pode trazer fortes impactos à área plantada de algodão, cujos custos de produção equivalem a três vezes os custos da soja. Há cinco ciclos consecutivos, o produtor paranaense, radicado na Bahia, Walter Horita, financia um terço de sua lavoura - de 32 mil hectares, entre soja, milho e algodão - com recursos de bancos estrangeiros. Como todo o ano, já tinha o recurso pré-aprovado, mas quando foi buscar o dinheiro há três semanas, se surpreendeu com a resposta negativa. "Fui informado de que a instrução era de suspensão das operações. Tive que reprogramar pagamentos", conta. Até agora, o produtor está sem o dinheiro e, na semana passada, se reuniu com a equipe do banco para encontrar solução. "A promessa é de que não conseguirei pegar crédito adicional. O máximo que farão é renovar o mesmo valor do ano passado, após a quitação adiantada de débitos", conta Horita. Ele está ciente, no entanto, que esse dinheiro prometido virá com taxas de juros duas vezes maiores do que lhe era oferecido por esses bancos estrangeiros. "Há três semanas conseguiria taxa de 8%. Agora estou contando com um custo de 15%", lamenta. Horita, que já foi presidente da Associação dos Produtores de Algodão da Bahia (Abapa), conta que esse tipo de problema atinge a maior parte dos grandes produtores da Bahia, que respondem por cerca de 50% dos 1,5 milhão de hectares da área cultivada de algodão, soja e milho. "Ás vésperas do plantio, o pessoal ficou sem o dinheiro pré-aprovado e agora tenta desesperadamente negociar com seus fornecedores de insumos", relata. Não há estimativas sobre o volume represado neste momento nos bancos estrangeiros. Sabe-se que os produtores mais prejudicados estão em Mato Grosso e na Bahia - estados que detêm mais produtores com grandes áreas - cerca de 35% da área de Mato Grosso, por exemplo, é de agricultor com mais de 10 mil hectares, segundo estimativas da Agrosecurity. "Na Bahia, o percentual da área nas mãos de grandes produtores - público-alvo dos bancos estrangeiros - está próximo de 50%", estima Horita. O grupo Scheffer - cujo planejamento é de cultivo em Mato Grosso nesta safra cerca de 70 mil hectares, entre soja, algodão e milho - também teve dificuldades de obter crédito nas instituições financeiras internacionais e teve que liquidar estoques de algodão e milho para complementar os recursos necessário ao custeio. Há cerca de sete anos, o grupo capta dinheiro nessas instituições, que atualmente representavam 70% do custeio. "Nesta safra fomos surpreendidos com a liberação de apenas 80% do volume pré-aprovado. Tivemos que vender estoques de última hora com um deságio de 2% no preço", lamenta Guilherme Scheffer, um dos administradores do grupo. Ele relata que a maior parte dos médios e grandes produtores de Mato Grosso estão com dificuldades semelhantes e que há poucas alternativas de financiamento disponíveis no momento. Nas tradings, por exemplo, os poucos negócios realizados ofertam quase o dobro das taxas de juros de anos anteriores. "Esse custo saiu de 9% ao ano para 16%", cita Scheffer. Ainda não se sabe exatamente o impacto desse cenário para a área plantada e produtividade de grãos no Brasil. Mas, para Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity, o primeiro impacto será no algodão, cuja plantio demanda alto investimento. "Só planta algodão quem tem recurso. O cultivo de 1 hectare custa de R$ 4,3 mil a R$ 5 mil, quase o dobro dos R$ 1,5 mil necessários para a soja", avalia Pimentel. Os produtores que já anteciparam todos os insumos necessários antes do agravamento da crise financeira mundial, vão conseguir plantar sem dificuldades, mas estão perdendo oportunidades de fechar novos negócios. Até o mega-produtor Eraí Maggi - que vai plantar 290 mil hectares em Mato Grosso - está tendo problemas para conseguir mais crédito nos bancos estrangeiros. "Estou perdendo algumas oportunidades de negócio, como por exemplo, aproveitar preço mais baixo de fertilizante. Vou ter que liquidar também estoque de algodão para levantar dinheiro e conseguir realizar esses negócios", diz. Em meio ao caos, a SLC Agrícola, uma das maiores empresas produtoras do País, recebe na última semana a liberação da segunda e última parcela dos US$ 40 milhões aprovados pelo IFC, braço social do Banco Mundial, no começo deste ano. "Não estamos sentindo essa restrição", afirma o diretor-presidente da companhia, Arlindo Moura. Dívidas O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou em reunião extraordinária na última segunda-feira a prorrogação do prazo para o pagamento de prestações das dívidas de investimento. De acordo com a Resolução nº 3.611, as instituições financeiras estão autorizadas a conceder prazo adicional até 15 de outubro de 2008 para o pagamento das prestações de operações de investimento agropecuário que venceriam entre os dias 1 e 14 de outubro.