Safra - Faltam R$ 4,1 bilhões para financiar safra de MT
Data:
13/11/2008
Parte da safra 2008/2009 já foi cultivada, mas a outra ainda está à espera de financiamento, e, se depender das tradings, a área plantada vai sofrer uma redução ainda maior que aquela prevista pela COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). O impasse protagonizado pelas multinacionais e produtores, especialmente os de Mato Grosso, chegou até o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em reunião com o ministro Reinhold Stephanes, líderes de entidades de produtores mato-grossenses apresentaram um déficit de R$ 3 bilhões para financiar só as lavouras de soja este ano, dinheiro que os representantes das tradings não estão dispostos a financiar. A última safra das três principais culturas (soja, milho e algodão) custou ao Estado R$ 8,54 bilhões - R$ 1,68 bilhões pagos com recursos próprios, R$ 730 milhões com créditos oficiais e R$ 6,13 bilhões com investimentos das tradings. Para a safra 2008/09, estima-se uma variação de 43%, ou seja, os custos de produção das lavouras mato-grossenses vão superar R$ 12 bilhões. E como os recursos oficiais não vão chegar nem a R$ 900 milhões, ou os produtores vão desembolsar mais do que os R$ 3,95 bilhões previstos inicialmente, ou o governo vai ter que arrumar atrativos suficientes para as tradings custearem os R$ 7,4 bilhões sem os quais a agricultura mato-grossense não vai conseguir garantir a produção esperada. No caso da soja, os recursos das tradings que financiavam 80% do custeio, este ano devem ficar em 53%. Dos poucos mais de R$ 8 bilhões necessários, apenas R$ 5 bilhões já chegaram até os produtores. Escassez ainda mais aguda, levando-se em consideração a área plantada, nas lavouras de algodão, que ainda precisam de pelo menos R$ 1,1 bilhão. Um dos maiores produtores da fibra no Estado, o grupo Fazenda Nova, vai deixar de plantar seis mil hectares de algodão no norte, oeste e leste de MT, "além do cancelamento de vários outros projetos no País", revela João Luiz Pessa, um dos sócios do empreendimento. De acordo com ele, faltaram US$ 25 milhões para as lavouras do grupo, US$ 15 seriam investidos no Mato Grosso. "E os 12 mil hectares que nós pretendemos cultivar ainda não estão totalmente garantidos. Falta recurso para bancar a mão de obra e outros custos variáveis". A redução na Fazenda Nova, até agora de 30%, só não está maior porque parte do crédito necessário foi conseguida antes da crise. A recusa por parte das tradings em financiar as lavouras não descrimina os produtores por hectares cultivados. Paulo Gilberto Diel, sojicultor da região de Lucas do Rio Verde, não conseguiu R$ 1 sequer das multinacionais. Endividado em R$ 1 milhão, ele reduziu os 400 hectares de plantio para apenas 100. "Há três anos nós não temos renda. Colhemos um prejuízo de US$ 4 dólares por saca." Para destravar o impasse o governo estuda aumentar os prazos dos Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e a redução dos juros dos mesmos.