Arroz - Queda do preço de commodity afetará balança no próximo ano
Data:
24/11/2008
A recessão em curso em alguns países desenvolvidos e a desaceleração que começa a se delinear nos mercados emergentes devem refletir negativamente nas exportações brasileiras em 2009. A expectativa de economistas é de que haverá alguma queda de volume nos embarques brasileiros, mas o impacto maior virá mesmo na forma de preço. "A crise que se alastra pelo mundo, provocando queda do Produto Interno Bruto (PIB) e aumento do desemprego em mercados como Estados Unidos, União Européia (UE) e Japão, vai enfraquecer principalmente o preço das commodities, mas afetará também os manufaturados com menor intensidade", avalia Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. Diante desse quadro, a RC prevê que o País registrará um superávit de US$ 8 bilhões em 2009, resultado modesto se comparado aos US$ 22 bilhões acumulados neste ano até a segunda semana de novembro. Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), lembra que o Brasil exporta basicamente commodities para mercados que prevêem PIB menor ou que crescerão abaixo do esperado, casos de Alemanha, Japão, Estados Unidos, China e Rússia. E quando se trata de commodity, ressalta ele, preço é um elemento-chave. "A desaceleração mundial prejudicará a siderurgia, setor que demanda muito minério de ferro, provocando queda na cotação dos minérios", prevê Ribeiro. O minério de ferro é o produto que mais gera divisas para o Brasil. De janeiro a setembro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações do produto totalizaram US$ 12,2 bilhões, 8,3% de tudo que o País vendeu no mercado externo. A má notícia é que o maior comprador da commodity é a China, que deve crescer menos em 2009, seguida por Japão e Alemanha, que já estão oficialmente em recessão. Juntos, os três países absorveram metade de todo o minério de ferro exportado pelo País até setembro. O Japão importou US$ 1,4 bilhão em minérios brasileiros, 11% do total do período. Outras mercadorias brasileiras que são campeãs de venda no exterior e têm vendas muito concentradas em alguns mercados podem vir a sofrer os efeitos da crise internacional. Esses são os casos, por exemplo, da soja e do café em grão. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), de janeiro a outubro a União Européia e China responderam por 84% do volume exportado de soja em grão. Sozinho, o bloco europeu respondeu por 74% dos 10,4 milhões de toneladas de farelo de soja que deixaram o País no período. A Alemanha absorveu 11,7% da soja em grão que chegou à UE e 12,6% do farelo. Dados oficiais do MDIC apontam que, de janeiro a setembro, 52% da soja em grão exportada seguiu para a China. Apesar dessa concentração, a perspectiva da Abiove é de que o quadro não será tão ruim em 2009. "Eu penso que os alimentos têm um comportamento diferente dos bens duráveis, porque, com ou sem crise, as pessoas têm que continuar comendo. Por isso não espero uma grande retração de vendas", afirma Fabio Trigueirinho, secretário-executivo da Abiove. O consumo crescente de carne na China, diz ele, tende a estimular a venda de soja, visto que 78% do volume da oleaginosa vira farelo para alimentar animais. "Mesmo que o mercado chinês não cresça 10% ao ano, ele vai acelerar 5%", justifica. De acordo com Trigueirinho, o mercado de carnes só é afetado quando as taxas de desemprego são altíssimas e não são atenuadas por programas sociais. Na UE e nos Estados Unidos, por exemplo, programas governamentais sempre aliviam a vida dos desempregados. O mercado de café em grão, 11 item mais importante da pauta brasileira, também é altamente dependente de mercados que estão em crise. De janeiro a setembro, a Alemanha participou com 19% da receita de exportação do produto, seguida pelos Estados Unidos (17%). O Japão, que gerou 7% das divisas, foi o quinto principal mercado do setor. Ainda assim, Jorge Esteve Jorge, vice-presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), acredita que não haverá queda nos volumes exportados no próximo ano. "A tendência é de haver uma redução na demanda por cafés especiais naqueles países que ficarem em situação mais crítica, mas não do café que exportamos." Ele reconhece, porém, que as cotações podem baixar. "O preço do café está atrelado ao câmbio e a outras commodities. Se elas caem em função da economia global, nossas cotações também caem." Segundo Esteve Jorge, como o Brasil responde por 30% das exportações mundiais de café, a desvalorização da moeda local acaba interferindo na cotação internacional do grão. De todo modo, ele salienta, o efeito valorização do dólar tem ajudado a compensar a menor cotação do café. "O preço em real pago ao produtor é mais ou menos o mesmo", conclui.