O momento de crise econômica e, principalmente, seus reflexos na produção e produtividade regional é o foco da maioria dos produtores rurais do cerrado baiano, onde está começando o plantio da safra 2008/2009 com a chegada das primeiras chuvas. Em função disso, ainda não teve repercussão entre a classe produtora a pesquisa da Embrapa/ Unicamp, de agosto deste ano, apontando que diversas culturas brasileiras deverão sofrer mudanças de área como resultado do aquecimento global, dentre elas duas que têm grande influência no cerrado baiano: a soja e o algodão. Na safra 2007/2008, a área plantada com soja na Bahia foi de 935 mil hectares, dos 1.695.848 já cultivados no período na região de cerrado do Estado. Com números crescentes de produção e produtividade média nos últimos anos, há, no entanto, uma estimativa de queda para a próxima safra, com base na perspectiva de menor aplicação de tecnologia. Como reflexo do momento econômico, esses números ainda não têm relação com a pesquisa Embrapa/Unicamp, projetando até 2020 uma redução de quase 24% da área apta para o plantio no País. PLANTIO - Principal produto agrícola de exportação, que coloca o País como segundo maior exportador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, a soja poderá sofrer perdas econômicas de R$ 4 bilhões em 2020 com a perspectiva de redução de área de plantio e produtividade, com aquecimento global. De acordo com os pesquisadores responsáveis pelos estudos, a soja deve ser a cultura que mais vai sofrer com a projetada elevação de temperatura do planeta. As simulações mostram que nos estados da Região Sul e nas áreas de cerrado no Nordeste se dará o impacto mais negativo, com a redução dos índices pluviométricos, considerando que em determinadas épocas, como na germinação e floração, o estresse hídrico é altamente nocivo para o desenvolvimento da planta e enchimento do grão. Tanto para a soja quanto para o algodão, diz o resultado da pesquisa, pode haver uma mudança geográfica da área de produção, com a passagem de áreas atualmente apontadas como aptas e produtoras, para inaptas e não recomendadas. Mesmo sem apontar números específicos para o cerrado baiano, a região é citada nas duas culturas, como propícias a refletir negativamente o aquecimento global. O algodão do cerrado baiano, que ocupou uma área de 293.455 hectares na safra passada, tem estimativa inicial de redução de 3,9% da área para a próxima safra, com perspectiva de uma variação negativa na produtividade de 7,4%. Os dados, elaborados em outubro passado por órgãos com atuação na região, podem sofrer alterações, haja vista que o plantio do algodão ainda não começou na região. ESTIMATIVAS - De acordo com a pesquisa da Embrapa/Unicamp, a projeção de redução de área recomendada para o cultivo de algodão no Brasil é de 11% até 2020 e de 16% até 2070. Atualmente existem 3.590 municípios em condições de baixo risco. Esse número pode ser reduzido em 2070 para 2.984 municípios (projeção mais otimista) e para 2.967 em um cenário mais pessimista. No cerrado baiano, diversas entidades de classe foram procuradas, mas alguns dos representantes estão viajando e não foi possível o contato. Outros se abstiveram de opinar sobre a pesquisa, em sua maioria, por falta de dados específicos sobre a região. Entre eles o presidente da Associação do Plantio Direto no Cerrado, Ingbert Dövich, que aceitou o desafio e fala sobre maneiras de mitigar o efeito estufa.