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Registro - Sem máquinas, produtores podem ficar impedidos de colher a safra
Data: 25/11/2008
 
Mesmo após o anúncio da liberação de uma linha extraordinária de crédito de R$ 500 milhões pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), destinada justamente a socorrer os agricultores inadimplentes, os bancos mantiveram os arrestos de equipamentos agrícolas em fazendas da região.
Uma equipe de reportagem acompanhou na semana passada um ato de busca e apreensão de 27 máquinas (entre tratores, plantadeiras, arados e colheitadeiras) em uma propriedade rural localizada a cerca de 80 quilômetros do centro de Rondonópolis. Os arrestos foram realizados por um oficial de Justiça, a pedido dos bancos DLL (De Lage Landen) e Rabobank Brasil.
Inadimplente com a parcela do financiamento vencida em 15 de outubro, uma dívida de R$ 3.063 milhões, o produtor Evandro Silveira, 47, disse à reportagem que iria tentar reverter na Justiça o que qualificou como "uma violência".
"Estamos há dez dias do final do plantio e iniciando a cobertura de fertilizante nas áreas já plantadas. Se tirarem todas as máquinas, não sei como vamos fazer para continuar", lamentou.
O sindicato rural do município reuniu produtores no local e fez um ato de protesto no momento em que o primeiro trator era levado embora. Além do arresto de máquinas, os bancos resolveram negativar o cadastro dos devedores.
Pólo de uma região que inclui mais de 20 municípios produtores e destino prioritário de investimentos em agroindústrias, quatro das 16 maiores unidades industriais implantadas no Estado desde 2005 estão no município, a cidade vivencia tempos de incerteza.
"O ministro [Reinhold] Stephanes [Agricultura] disse que a inadimplência afeta apenas Mato Grosso e Goiás. Isso representa 41% da produção de soja do país. É evidente que a crise é grave e trará conseqüências. A mais imediata será o desemprego", disse Ricardo Tomczyc, membro da diretoria da Famato e presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis.
A Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão) estima que 25 mil postos de trabalho no campo sejam cortados até 2009 -caso se cumpra a estimativa de redução de até 40% na área plantada com a cultura.
O agricultor gaúcho Claudino Marin, 56, disse que desde que chegou à região, há 33 anos, nunca viu crise igual. Experimentado nas turbulências do setor: oscilações de preços, clima nem sempre favorável e sucessivos planos econômicos, ele afirma que a atual conjunção de fatores é a pior que já testemunhou.
"As crises anteriores eram setoriais, localizadas e, bem ou mal, você tinha o mercado de crédito aberto. Hoje a crise é mundial, o financiamento acabou, não temos mais mercado futuro e o risco é de 100%", disse o agricultor que, pela primeira vez em dez anos, não plantará nem sequer um pé de algodão. "Plantei 2.500 hectares na safra passada. Neste ano plantarei zero", afirmou.
Proprietário de duas unidades de processamento de pluma de algodão -com capacidade para preparar até 9.000 toneladas-, Marin já prevê não empregar a estrutura em 2009. "Em situações normais, geramos 250 postos de trabalho. Desta vez, não será preciso mais do que 50."
O catarinense João Carlos Diel, 50, também deixou de plantar algodão e, nos 2.500 hectares que preparou com soja, investiu menos em tecnologia. Ele calcula que a perda de produtividade neste novo cenário poderá chegar a cinco sacas por hectare (10% em relação à safra passada).
Diel recebeu uma carta informando que seu nome havia sido negativado pelo Banco do Brasil na Serasa. A dívida é relacionada a uma linha de financiamento agrícola vencida em setembro e que, segundo ele, não será paga. "O grande "x" da questão será a próxima safra, ou seja, qual será o tamanho do prejuízo."

Fonte: Folha de São Paulo
 
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