Feijão - Feijão, prejuízo no campo e reajuste na mesa
Data:
11/12/2008
Seca reduz potencial produtivo do feijão e a quebra no Paraná, maior produtor, pode comprometer o abastecimento do mercado nacional em 2009 Os números divergem, mas seja qual for o tamanho da quebra, o fato é que o Paraná não vai colher neste verão uma safra recorde de feijão, conforme previsão inicial. E o consumidor pode preparar o bolso, pois a quebra na safra do maior produtor nacional do grão pode comprometer o abastecimento do mercado em 2009 e elevar os preços do produto dentro e fora da porteira. Levantamento preliminar do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), concluído no final da semana passada, indica quebra de 4% na produção estadual do grão. No campo, contudo, os relatos são mais pessimistas. Alguns produtores afirmam já ter perdido até 100% da lavoura por causa da seca. Em agosto, quando teve início o plantio da safra das águas, a Seab calculava que o estado tinha potencial para colher até 608,7 mil toneladas de feijão. Mas São Pedro não ajudou. A falta de umidade entre agosto e setembro prejudicou a implementação e germinação das lavouras em algumas regiões do estado. De outubro até meados de novembro o excesso de chuva atrapalhou o desenvolvimento das plantas no Sul paranaense, região que é responsável por 70% da produção estadual. “Com todos esses fatores adversos, as lavouras não se desenvolveram adequadamente. As plantas ficaram com baixo porte e sistema radicular superficial. Agora, o déficit hídrico na floração provoca abortamentos florais e causa danos irreversíveis no potencial produtivo. Se as chuvas não retornarem, os prejuízos aumentam a cada dia”, afirma o Deral em relatório. Atualmente, a produção paranaense de feijão das águas está estimada em 581,9 mil toneladas. Novo levantamento para avaliar as perdas por estiagem deve ser divulgado na semana que vem. “Vai haver quebra e certamente será maior que os 4% previstos atualmente. Mas ainda não dá para quantificar com precisão os prejuízos”, antecipa o agrônomo do Deral, Otmar Hubner. Paulo Camargo, agrônomo da Cooperativa Agroindustrial Bom Jesus, com sede na Lapa (Centro-Sul), conta que, após quase um mês sem chuva, agricultores do município que plantaram mais cedo perderam toda a sua produção. Nas áreas semeadas até 10 de outubro, relata, a quebra já chega a até 60%. Nas lavouras plantadas mais tarde as perdas são menores e, em alguns casos, até reversíveis, afirma o agrônomo. Os porcentuais variam entre as regiões. Em Castro (Campos Gerais), por exemplo, as primeiras lavouras colhidas têm rendido entre 30% e 50% a menos que o esperado. Em Prudentópolis (Campos Gerais), as perdas chegam a 80 % nas lavouras que estão enchendo grãos e 100% nas áreas em floração. “A quebra pegou o mercado no contrapé”, avalia Marcelo Lüders, analista da Correpar e presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe). Segundo ele, o Paraná alardeou que colheria uma supersafra e outros estados produtores, como Minas Gerais, acabaram não plantando tanto quanto podiam ou gostariam. Agora, poderemos ter dificuldades de abastecimento em 2009 e o preço, que vinha depreciado, vai subir”, alerta. De acordo com Lüders, a redução da oferta já está sendo sentida no mercado paulista. Segundo ele, a tendência é que a pressão compradora continue até a metade da semana que vem. Depois disso, as festas de fim de ano tendem a esfriar as negociações. “O comprador se retira do mercado no fim do ano, mas o produtor continua colhendo. Por isso, é possível que 2009 comece com preços pouco mais baixos. Mas as cotações devem voltar a subir já na segunda quinzena de janeiro”, prevê. A alta das cotações, se confirmada, deve ser prontamente repassada ao consumidor porque os supermercados não têm estoques de feijão, alerta o analista. Nesta época do ano, eles costumam priorizar os produtos de Natal, explica. “Se os preços chegarão aos níveis recordes que alcançaram no início do ano, só o tempo dirá, mas a tendência para o início de 2009 é de mercado em alta.” Em janeiro de 2008, a cotação da saca do feijão chegou a R$ 300 ao produtor. Na gôndola dos supermercados, os consumidores chegaram a pagar até R$ 9 o quilo. O Brasil consome anualmente 3,65 milhões de toneladas de feijão. Em três safras, o Paraná oferece ao país um quarto desse volume. Nesta temporada 2008/09, o Brasil deve, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), colher 3,7 milhões de toneladas de feijão, 1,5 milhão (41%) na safra de verão. Produtores calculam os estragos da estiagem Em Campo Mourão, na Região Centro-Oeste do estado, a última precipitação, no início de novembro, atingiu 68 mm contra uma média de 150 mm no mês passado. Por conta da falta de uma única gota de água na lavoura, o agricultor Marcelo Riva, que plantou 60 hectares de feijão, não sabe o que fazer com 50% da área que está com baixa formação de grãos. “Será inviável colher em 30 hectares. Uma das alternativas será aplicar outra cultura na lavoura”, acredita Riva. Os grãos, que foram cultivados na propriedade no final de setembro, estão em fase de formação. “Esse período é a fase que mais a planta necessita de água, mas há 30 dias não cai uma única gota de chuva”, diz Riva. “Nos anos anteriores o feijão foi castigado pelo clima e preço. Já o ano passado a cultura se salvou com uma produção de 2,1 mil quilos por hectare.” O agricultor, que investiu cerca de R$ 1,2 mil por hectare, tinha expectativa de colher à mesma média do ano passado. Já o agricultor Hermes de Moraes, ainda tem esperança de que a chuva, prevista para os próximos dias, salve a cultura de feijão e a lavoura de milho cultivada no município de Mamborê. “Se chover uma média de 50 mm acredito que dois dos três hectares de feijão plantados serão salvos”. Moraes estima que a produção de milho em sua propriedade deve ter uma queda de até 30% com a falta de chuva. “A esperança era colher de 8,7 mil a 9,9 mil quilos por hectare, mas depois dessa estiagem, não acredito mais em uma boa produção”. Para o engenheiro agrônomo da Cooperativa Coamo, Marcilio Saiki, seriam necessários de 40 mm a 50 mm de chuvas, com precipitações constantes, para amenizar o período de seca. Conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), os agricultores da região plantaram cerca de 7 mil hectares de feijão das águas.