Os preços da arroba bovina iniciaram um novo ciclo de baixas a partir deste último trimestre. Os custos, que atingiram picos de R$ 93 em outubro, agora estão na casa dos R$ 80. No entanto, há uma luz no fim do túnel. Pelo menos é o que indica José Vicente Ferraz, diretor técnico da AgraFNP (empresa privada de análises do agronegócio). ‘‘Os pecuaristas devem ter ‘sangue frio’. A oferta (de carne bovina) é restrita e a partir de março a tendência é de recuperação (nos preços)’’, afirma. No entanto, ele acrescenta que os custos não devem voltar ao patamar dos R$ 90 a arroba.
Neste ano o preço da arroba bovina iniciou uma forte recuperação a partir do 1º trimestre. Desde então, os custos da arroba entraram em uma curva ascendente atingindo o seu patamar mais elevado em outubro. No entanto, a crise financeira global estourou mexendo em todo o mercado: de bens duráveis a commodities. Desde então, os preços voltaram a cair mas estacionaram na faixa dos R$ 80 a arroba. Na avaliação de Ferraz se a crise persistir por muito tempo poderá comprometer os investimentos que precisam ser feitos pelos pecuaristas para a recomposição do rebanho.
O rebanho nacional teve baixas expressivas, principalmente, há três anos quando foi registrada a fase mais aguda dos baixos preços (que bateu na casa dos R$ 40 a arroba). Naquela época foram confirmados focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná, embargando as exportações e afetando até mesmo o comércio entre os Estados. Mas o custo da arroba bovina enfrentou um ciclo de baixas remunerações, registrado entre 2002 e 2006. O longo período levou os pecuaristas a abater matrizes reduzindo, conseqüentemente, a oferta de gado. ‘‘Agora com a crise houve um processo forte de queda de preços que chegou a surpreender porque a oferta continua baixa’’, avalia Ferraz.
Segundo ele, os frigoríficos reduziram os abates e os pecuaristas estão mais cautelosos com a venda, optando por ofertar para as maiores indústrias. ‘‘Aumentou a escala e o preço caiu. O preocupante é que se os preços não voltarem a subir a recomposição do rebanho poderá ser interrompida porque irá comprometer os investimentos’’, diz o diretor técnico. Ele acrescenta que a queda nos custos neste último trimestre frustou os pecuaristas. ‘‘2009 é um ano de incertezas e tudo vai depender do quanto a crise vai agravar. Haverá pouca oferta de gado, mas há dúvidas sobre o consumo interno e externo’’, afirma.
Outro fator citado é a dificuldade de exportação para a Rússia – o maior mercado consumidor de carne brasileira – devido às dificuldades de crédito. O país foi afetado com a queda na cotação do petróleo. Apesar da queda no preço da arroba no mercado interno – atualmente na casa dos R$ 80 – Ferraz acrescenta que os preços estão mais altos do que os registrados no ano passado. ‘‘A grosso modo este preço ainda cobre os custos e sobre algum. Mas o momento é de recomposição do rebanho e se a rentabilidade não for muito atraente os pecuaristas não vão voltar a investir no setor’’, observa. (F.M.)