O agronegócio mato-grossense entrará 2009 ciente de que será um ano nada fácil para quem atua no setor agrícola. Muitas lideranças agrícolas acreditam que, se não houver alterações no cenário econômico mundial, a agricultura estadual passará por um dos piores anos da sua história. O setor teme as conseqüências da falta de crédito, do endividamento agrícola, das dificuldades de comercialização e plantio, da queda de preços das commodities, entre outros.
O senador Gilberto Goellner, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária da Câmara/Senado, é um dos que entende que 2009 deve ser o pior ano para rendimento econômico dos últimos 30 anos para o setor, isto é, desde o início da agricultura comercial no Estado. Nesta safra de soja já iniciada, por exemplo, diz que a perspectiva é de ganhos negativos, em função do alto custo de produção inicial. Para a safra de soja 2009/2010, diz que a tendência é preocupante, pois projetam-se dificuldades para o plantio e uma queda muito maior de produção.
Nesse cenário, Goellner acredita que pode haver uma dificuldade muito grande para o pagamento do endividamento existente. Conforme o senador, o governo brasileiro vai precisar fazer, no próximo ano, mudanças na política agrícola, adotar um novo modelo de crédito agrícola para garantir um seguro de renda, trabalhar a renegociação dos financiamentos que ainda não foram equacionados. Outra dificuldade, segundo ele, é que as tradings tendem a ter dificuldades para financiar a próxima safra. “A pergunta é: o governo vai conseguir suprir a falta de crédito?”, indagou.
“2009 vai ser um ano muito difícil, talvez o mais difícil que já teve nos últimos anos”, estimou o presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis, Ricardo Tomczyk, lembrando que a crise financeira mundial iniciada em 2008 vai se estender por mais algum tempo. Para o próximo, se a crise mundial persistir com intensidade, todas as culturas agrícolas do Estado devem ser seriamente afetadas, segundo o presidente. Este ano, por exemplo, a soja não foi seriamente afetada porque já estava com a safra garantida quando eclodiu a crise.
Ricardo Tomczyk analisa que, durante a colheita da safra 2008/2009, a tendência é de que haja problemas de comercialização de soja, devido uma pressão muito grande por venda da commodity. O presidente do Sindicato Rural explica que, neste começo de safra da soja, conseguiu-se vender muito pouca soja antecipadamente. Com isso, diz que projeta-se uma pressão para baixo no preço e uma dificuldade na sua venda. No entanto, avançando-se para a próxima safra, a 2009/2010, avalia que a trajetória é de problemas para as principais culturas do Estado.
“O cenário é bastante delicado”, garantiu Tomczyk, observando que, para o próximo ano, o governo brasileiro terá de agir rapidamente para evitar perdas maiores. Nesse sentido, repassa a necessidade de um apoio muito grande para a comercialização da safra. Lembra que o financiamento para a próxima safra é uma incógnita, pois espera-se que não haja crédito privado o suficiente e que haja juros ainda mais altos. Até o momento, há R$ 2,9 bilhões para a política de sustentação dos preços dos produtos agrícolas. O diferencial, conforme o líder agrícola, será a eficiência do governo em colocar esses recursos já alocados nas mãos dos produtores.
O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), Seneri Paludo, por sua vez, repassou que, com as situações enfrentadas pelo agronegócio de Mato Grosso, o ano de 2009 tende a manter algumas dificuldades, mas, apesar disso, será um ano de recuperação, na qual deverá ser sustentada dentro e fora da porteira. “Será um ano de grandes desafios e de superação, por isso precisamos estar cada vez mais unidos e acompanharmos as informações reais do que está acontecendo”, analisou.
Conforme Seneri Paludo, uma das dificuldades do produtor no ano que vem será a obtenção de lucros reais na comercialização da sua safra, haja vista os patamares elevados às alturas em relação aos custos dos insumos registrados neste último plantio. “O que os produtores estarão almejando é assegurar a sua rentabilidade na lavoura. E, se o custo dos insumos para o plantio nesta safra foi registrado como um dos maiores patamares da história, a pergunta é: como ficará então a comercialização da safra do próximo ano? O desafio será o produtor conseguir negociar bem o seu produto para ter condições de cobrir as suas margens”, alertou.