Registro - Exportação do campo pode cair até 23% em dólar
Data:
07/01/2009
O recuo nos preços internacionais das principais commodities agropecuárias e a estagnação na demanda mundial por alimentos devem atingir o principal motor das contas nacionais em 2009. As exportações do agronegócio brasileiro, que tem sustentado o superávit comercial do país na última década, devem recuar até 23% em dólar neste ano, apontam estudos da Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. A expressiva desvalorização do real ante o euro e o dólar tem tornado mais competitivos os produtos nacionais no exterior, mas esse movimento deve afetar a receita dos exportadores do setor. As previsões do governo levam em conta os preços médios recebidos em 2007 e as quantidades embarcadas em 2008. A projeção, que usa um dólar médio de R$ 2,20 calculado pelo Banco Central em 2009, indica uma redução de 5% nas vendas externas do agronegócio em moeda brasileira. No cenário mais provável traçado pelo governo, o setor deve embarcar ao exterior US$ 57,2 bilhões neste ano. Mas pode haver um "ponto de equilíbrio" se a cotação média do dólar superar a previsão do BC e fechar este ano a R$ 2,30. "Se o dólar ficar mesmo nesse nível ao longo do ano, repetiríamos o ótimo desempenho de 2008", afirma o secretário de Relações Internacionais, Celio Porto. Em 2008, as vendas totais do agronegócio fecharam US$ 71,9 bilhões, com um superávit de US$ 60 bilhões. Uma reação nos preços da commodities agrícolas, que começa a se desenhar, deve ajudar no movimento, impulsionando o setor a encostar nos R$ 140 bilhões em vendas neste ano. "Na semana passada, as cotações do milho subiram 22% e da soja, 10%", anima-se o secretário. Em 2008, o país vendeu US$ 10,945 bilhões, um salto significativo de 63% na comparação com os US$ 6,7 bilhões de 2007, apurou o Valor. Em volume, as vendas somaram 24,49 milhões de toneladas, acréscimo de 3%. Em contrapartida, há outras preocupações. No algodão, a situação deve seguir crítica, já que as cotações internacionais chegaram ao "target price" dos Estados Unidos. Isso piora a situação dos produtores brasileiros, que não têm o apoio dos três programas de subsídios americanos. Pelas contas do governo, devem crescer as quantidades exportadas no complexo soja (grãos, farelo e óleo), açúcar e etanol. Mas as vendas de produtos florestais e complexo carnes devem encolher. "Isso significa menos dólares", diz o diretor de Promoção Comercial do ministério, Eduardo Sampaio. Café, couros, frutas e fumo devem manter a performance em 2009. Ao mesmo tempo, o governo lida com as dificuldades para abrir e consolidar novos mercados. Em suínos, há um quadro de confusão com a China. Havia 24 frigoríficos habilitados a exportar e dois embarcando, mas os chineses têm "embolado" a situação e evitado a importação com travas burocráticas. Em aves termoprocessadas, os chineses já avisaram não ter mais interesse. "Queriam nos vender tripas de ovinos e caprinos. Decidimos, então, liberar só a importação de estabelecimentos chineses habilitados para vender à União Européia", diz Celio Porto. Em bovinos, a África do Sul ainda não quer conversa porque ainda não digeriu as explicações sobre os focos de febre aftosa de 2005. Mas as Filipinas devem mandar uma missão veterinária no fim deste mês. Com a Rússia, o Brasil seguirá insistindo em reuniões bilaterais na próxima semana, quando o secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, encontrará autoridades russas em Berlim, na Alemanha. O secretário questionará a redução das cotas de importação a "terceiros países", onde o Brasil está incluído. Mas o expediente só deve acabar em 2010, quando a Rússia deve concluir sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC).