Safra - Preços internos dos grãos reagem e amenizam o impacto da crise
Data:
03/02/2009
A recente alta nos preços dos grãos no Paraná e a valorização do dólar frente ao real compensam parte das perdas provocadas pela seca e pela crise internacional, calculam corretores e analistas. As cotações em Chicago estão bem menores que os recordes de 2008, mas por aqui alcançam os mesmos patamares desta época do ano passado. O quadro favorável aos negócios abre a temporada de venda da safra de verão, que começa nesta semana e vai até março. A soja e o milho subiram, lado a lado, 20% no último mês no estado, chegando a R$ 48 e a R$ 18 a saca de 60 kg, respectivamente. Na comparação com as cotações médias de fevereiro de 2008, a oleaginosa teve aumento de 10% e o cereal, queda de 10% – o milho estava valorizado há um ano porque os estoques internacionais eram baixos e a demanda parecia crescente. Em Chicago, soja e milho tiveram baixas. “A soja caiu de US$ 16,6 o bushel para os atuais US$ 9,5 a US$ 10,5, mas ainda está acima da média histórica de US$ 6. O milho caiu de US$ 8/bushel para os atuais US$ 3,6 a US$ 4,2, também acima da média de US$ 2,5”, compara o economista Eugênio Stefanelo, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Não fosse o aumento nos custos em 2008, a renda da lavoura em real seria maior que a da safra passada, mesmo com crise internacional. “Os preços atuais não significam necessariamente rentabilidade”, pondera o corretor Steve Cachia, da Cerealpar. Os produtores gastaram em média 30% mais, segundo as cooperativas do Paraná. A margem justa, afirma Cachia, aumenta a importância de o produtor participar do mercado. Em sua avaliação, os relatórios sobre a safra Argentina vão puxar os preços da soja, para cima ou para baixo. “Ainda há chance de recuperação das lavouras argentinas e, se isso acontecer, as linhas mudam de direção”, diz o corretor.” Houve chuva no país vizinho na última semana e há previsão de mais precipitações a partir de hoje. No milho, o impacto da seca no Brasil já teria sido precificado. Os altos estoques impediram que as cotações subissem tanto quanto ascda soja, avalia a analista Daniele Siqueira, da AgRural. Na virada de 2008 para 2009, os estoques brasileiros estavam em 11,9 milhões de toneladas, 3,6 vezes o volume da passagem de ano anterior. Mas o cenário não é tão estável. “Estamos com preços até superiores aos do ano passado não só pela quebra da produção. Temos colchão (estoque) e o dólar manteve-se acima de R$ 2,30”, frisa. A tendência baixista do milho é reforçada pelas informações de que a área da safrinha pode ficar acima da média histórica, apesar dos estoques, aponta Carlos Alexandre Gallas, da Intertrading. Os produtores estariam se esforçando para compensar perdas da safra de verão e, como os custos caíram nos últimos meses, têm mais condições de colocar esse plano em prática. Vantagem interna As cotações dos grãos em dólar eram maiores um ano atrás, já as internas não. Entenda os motivos: Câmbio – Com o dólar valorizado, as cotações de Chicago valem mais para o produtor que recebe em real. Sustentação – Apesar da queda, os preços seguem acima das médias históricas, mesmo em dólar. Prejuízo – Mesmo assim, o produtor pode ter gastado mais do que vai receber, porque os custos subiram cerca de 30%. Vendas – Os analistas dizem que esta é uma boa hora para negociar parte da produção, porque a tendência é de queda no milho e oscilação na soja. Paraná vai rever previsões de produção As chuvas das últimas semanas amenizaram as perdas nas lavouras do Paraná e devem alterar as previsões de safra lançadas pelo setor agrícola e pelo governo do estado. Perto da metade da soja e um terço do milho ainda estão em fase de desenvolvimento vegetativo e floração, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), o que permite recuperação de parte do potencial produtivo da oleaginosa. O Deral soltou, em 13 de janeiro, avaliação apontando quebra de 23,4% na safra de grãos 2008/09. Três dias depois, a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) divulgou índice de 29%. A divergência maior ocorreu em relação ao impacto da seca na soja. O Deral marcou 17% e a Ocepar 23%. Os números, levantados em prazos e métodos diferentes, foram aceitos pelo mercado com questionamentos isolados. “As perdas na soja devem ficar acima dos 17% previstos pelo Deral e pouco abaixo dos 23% que calculamos”, afirma o analista econômico da Ocepar, Robson Mafioletti. A dificuldade nos cálculos reflete uma safra de contrastes. Enquanto em alguns municípios parte dos produtores diz ter perdido 100% da soja, em outros as lavouras apresentam ótimo estado. “Essa é uma região abençoada”, afirma o produtor Marcos Bertolini, de Castro (Campos Gerais), que espera colher mais de 4 mil quilos por hectare. O Centro-Sul, o Sul e o Centro do estado foram menos atingidos. Norte, Noroeste, Centro-Oeste, Oeste e Sudoeste concentram as lavouras de soja e milho mais prejudicadas. Venda da safra começa com quadro favorável a negociações O produtor paranaense vende pouco antecipado, o que amplia a pressão sobre os preços na colheita. Por enquanto, não há número oficial sobre o porcentual da safra já comercializado, até porque não se sabe exatamente quanto será colhido, por causa da seca. A crise internacional fez com que os negócios fossem adiados. No entanto, os preços em alta teriam normalizado o quadro nas últimas duas semanas. A primeira avaliação do Departamento de Economia Rural (Deral) sobre as vendas da safra 2008/09 deve sair nesta semana, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab). Ainda estão à venda 3% da soja e 28% do milho de 2007/08, informa o agrônomo Otmar Hubner, técnico do Deral. O Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) estima que as vendas antecipadas estejam entre 5% e 10%, dentro de uma média histórica estadual. “Em Mato Grosso, esse porcentual chega a 25%, mas o produtor paranaense é um pouco mais capitalizado e, por isso, acaba negociando mais tarde”, afirma o analista econômico da Ocepar, Robson Mafioletti. As consultorias, por sua vez, têm índices mais elevados, que mostram que até 30% dos grãos paranaenses podem ter sido comercializados antecipadamente. A pressa é maior no milho do que na soja, porque os preços do cereal estão em alta, mas os estoques estão elevados.