Trigo - Moinhos vão às compras de trigo, que está 15% mais caro
Data:
09/02/2009
Com os estoques reduzidos, moinhos brasileiros vão às compras e encontram o trigo até 15% mais caro que o na passagem do ano, além de produtores resistentes a negociações e que apostam em novas valorizações no preço do grão. As indústrias que vinham sendo pressionadas pela quebra de safra na Argentina, seu principal fornecedor, enfrentam agora o fator China, que na última semana anunciou uma quebra na safra que já atinge 9,5 milhões de hectares plantados com trigo. Os preços internos do trigo subiram no último mês, no Paraná, 6,23% no mercado de balcão (ao produtor) e de 12,06% no de lotes (negociações entre empresas), conforme levantamento do Indicador Cepea/Esalq. O aumento é motivado pelas sucessivas reduções na estimativa da safra argentina. Sem esse concorrente, produtores brasileiros mantêm uma posição de venda retraída, o que colabora para a manutenção da elevação dos preços. Essa alta, aliada ao retorno da cobrança pela Tarifa Externa Comum (TEC) e do frete para a Marinha Mercante (AFRMM) - esses encargos respondem por 12% do custo para aquisição do trigo - tem apertado as margens da indústria. Os moinhos, por sua vez, estão com poucas condições de negociar preços já que seu tradicional fornecedor está fora do mercado e seus estoques são cada vez menores. "Devido à escassez do trigo da Argentina, que já cancelou novos registros, vamos adquirir trigo nacional em uma maior velocidade", disse Lawrence Pih, proprietário do Moinho Pacífico. Mesmo dispostos a pagar o preço do trigo em um momento de aceleração, Pih afirma ter encontrado dificuldade na aquisição do produto. "Os moinhos estão procurando [os produtores], mas eles estão segurando o trigo, a negociação está mais difícil." Christian Saigh, proprietário do Moinho Santa Clara, também observa um mercado retraído, mesmo com o preço compatível aos pagos pelo trigo argentino. "O mercado brasileiro está um pouco travado na ponta de venda porque os produtores acreditam na continuidade da alta dos preços", afirmou. Saigh destaca que o aumento acompanha a tendência das cotações internacionais, mas a necessidade de compra no mercado interno é maior "e o produtor já precificou essa falta". Com o incremento nos custos de produção, é inevitável falar no repasse desses gastos. Para Saigh, isso deve acontecer já no mês de fevereiro. "Deverá ter um aumento de 8% no preço da farinha, o que é proporcional ao aumento de custo", disse. Segundo ele, o segmento de panificação teria condições de absorver essa alta sem repassá-la ao consumidor final. As últimas notícias do mercado devem fazer com que o produtor brasileiro, que ainda tem cerca de 2,8 milhões de toneladas de trigo para escoar, mantenha a expectativa de novos ganhos e a cautela nas vendas. O Banco do Brasil prorrogou as parcelas de custeio do trigo. No caso da agricultura empresarial, os pagamentos de janeiro e fevereiro deverão ser efetuados com o último vencimento do contrato, que pode ser maio ou junho. O atual cenário deve equilibrar o caixa dos triticultores que foram penalizados com a expressiva queda nas cotações do cereal no segundo semestre de 2008. Abastecidos, a indústria doméstica não adquiriu a safra recorde brasileira, estimada em 5,5 milhões de toneladas, levando os preços abaixo do mínimo estabelecido pelo governo. O novo panorama não garante que os agricultores voltem a apostar na cultura. Além da escassez de crédito, a Argentina pode recuperar sua produção na próxima safra. Como o produtor brasileiro colhe em agosto e no final de outubro já entra a safra argentina, é uma janela pequena para a comercialização.
Fator China
O estímulo para os preços e para a produção de trigo no mercado mundial poderá ser definido pelo tamanho da quebra da safra chinesa. Segundo estatísticas recentes, a seca atinge mais de 10 milhões de hectares no país, dos quais 9,5 milhões são áreas de cultivo de trigo. A China é um gigante que consome quase 110 milhões de toneladas de trigo e produziria, de acordo com o Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), sem quebra, 106 milhões de toneladas. "Se a quebra for da ordem de 30 milhões de toneladas, a produção mundial cairia para 620 milhões e, mantida a demanda, a relação estoque/consumo recuaria para o menor patamar de história", explica Elcio Bento, analista da Safras & Mercado. "Uma quebra desta intensidade na China apertaria o quadro de oferta e demanda, e resultaria em preços mais firmes no âmbito global, porém, não seria suficiente para gerar temor de desabastecimento do cereal", avalia.