No Cariri, em razão da queda do preço do feijão, os agricultores estão dando o produto para o gado comer. Crato. "Feijão de corda para os porcos por apenas R$ 0,50 o quilo ou R$ 30,00 o saco de 60 quilos". O grito do vendedor se espalha na feira semanal do Crato numa desvalorização do trabalho do produtor rural, ao mesmo tempo em que compara o principal alimento da cesta básica do sertanejo como ração para animais. Enquanto os consumidores comemoram a queda nos preços, os produtores lamentam os prejuízos. O titular da Secretária de Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará (SDA), Camilo Santana, apresenta como alternativa a venda da safra à COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). O gerente regional da Ematerce, Adonias Sobreira, esclareceu que o feijão que está sendo vendido a R$ 30,00 o saco é o feijão velho, enquanto o novo foi comercializado ontem, na feira do Crato, a preços que variam entre R$ 40,00 e R$ 60,00, dependendo da qualidade do produto. O preço do saco de 60 quilos do feijão de corda caiu de R$ 70,00 para R$ 35,00 em menos de uma semana no Cariri. Os produtores estão preferindo soltar o gado dentro das roças do que colher a safra. "Na ponta do lápis, dá prejuízo colher o feijão", destaca o agricultor e comerciante José Bezerra, conhecido como "Zé Terra Quente", um dos maiores comerciantes do ramo de cereais da região. O produtor paga R$ 15,00 por um dia de serviço. Gasta mais R$ 5,00 com almoço e merenda para o trabalhador e investe mais R$ 10,00 com a debulha, o transporte e o saco. Com base neste levantamento, "Terra Quente" preferiu transformar as 50 tarefas de feijão que ele plantou em pasto para o gado. Esta semana, ele mandou dois caminhões carregados com feijão para Fortaleza. "As carretas estão voltando porque não encontraram compradores", lamenta ele.
Drama na região O mesmo drama está sendo vivido por outros produtores da região. É o caso do agricultor e cerealista Juarez Oliveira Leite, proprietário de um armazém no município de Mauriti. Juarez diz que o prejuízo só não foi maior porque ele plantou mais milho do que feijão. Mesmo assim, a perspectiva, segundo afirma, não é boa. O milho está baixando de preço. O saco de 60 quilos, que era vendido a R$ 35,00, baixou para R$ 23,00. Juarez critica o governo pela falta de uma política de preços que garanta a sobrevivência do agricultor. "Do jeito que vai, os poucos agricultores que ficaram na zona rural terminam indo para a cidade", avalia.
Preço mínimo O secretário de Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, que esteve no fim de semana no Cariri, informou que a CONAB vai garantir a política de preços mínimos do Governo Federal com a compra do feijão. Os interessados devem procurar a CONAB e informar o armazém onde os grãos estão estocados. Antes de confirmar a compra, técnicos da estatal vão ao local verificar a quantidade, qualidade e as condições de armazenagem do produto.
Classificação Colhida a amostra, o feijão é classificado de acordo com a qualidade. O preço mínimo varia entre R$ 52,20 a R$ 69,60. É uma alternativa contra os riscos de queda nos preços praticados durante a safra. Por este sistema, o governo garante a compra do produto por um preço fixado no contrato. Ao final do período contratado, o produtor pode optar por vender o grão ao governo ou buscar melhor preço no mercado. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Mauriti, Eugênio Pacelli Sobral, diz que não compensa mais plantar feijão. E, para quem planta cultura irrigada a situação piorou com a alta da energia elétrica que subiu cerca de 10%. Os agricultores de Brejo Santo estão procurando alternativas. Um delas é o fortalecimento da agricultura familiar com a criação de abelha, produção de leite e colheita sazonais. O feijão, por exemplo, está sendo colhido no segundo semestre, quando o produto falta no mercado e o preço sobe para cerca de R$ 150,00 o saco. O presidente do STR, Cícero Antônio de Souza admite, entretanto, que o sistema tradicional de plantio de feijão dá prejuízo.