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Milho - Transgênico contamina soja e causa prejuízo
Data: 27/04/2009
 
Os indícios de transgenia em lavouras de soja convencional estão trazendo prejuízos aos produtores em algumas regiões do Brasil. No Paraná, além de pagar royalties à contragosto, alguns produtores tiveram o contrato cancelado por parte dos compradores que preferem o grão convencional. Em busca de maior remuneração, alguns escolhem plantar apenas o convencional em busca de prêmios médios de R$ 2,00 pela saca. Porém, o manejo inadequado das sementes ou mesmo da lavoura podem provocar a contaminação do tipo convencional por meio da poeira de grãos transgênicos.

Os problemas no manejo por produtores de sementes seriam o principal canal de contágio na cadeia produtiva, conforme informações de uma fonte do Paraná que preferiu não se identificar. Dessa maneira, a contaminação só é descoberta após o término da colheita, por meio do teste feito no ato da entrega às empresas compradoras. "A falta de limpeza das máquinas e no processo de beneficiamento está causando a contaminação. Com isso, o produtor acaba sendo obrigado a pagar royalties para a Monsanto, que é a dona da tecnologia na região. Se continuar assim, daqui a algum tempo não haverá mais soja convencional", afirmou. Segundo disse, a empresa americana abocanha 2% do valor da mercadoria.

"Os transgênicos precisam de credenciamento para comercialização. Mas o convencional fica exposto à negligência da fiscalização, que deveria ser feita pelo Ministério da Agricultura", completou a mesma fonte. Segundo disse, uma maneira de resolver o problema seria credenciar empresas para produzir apenas uma variedade por propriedade.

"Fica economicamente inviável produzir sementes separadas. É preciso um papel mais atuante do Ministério da Agricultura. Um processo de certificação eficiente agregaria valor à agricultura nacional como um todo.", avaliou Luis Filipe Sousa Dias Reis, diretor da PGP Consultoria e Assessoria, especializada em implantação de sistemas para certificação. Para ele, as empresas de sementes não estão agindo com má fé. "Acredito que o mercado para as duas variedades devem conviver em harmonia".

O Ministério da Agricultura afirmou desconhecer qualquer denúncia sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, disse que qualquer denúncia deve ser encaminhada ao setor de mudas e sementes do Ministério ou às superintendências locais, instaladas em cada um dos estados brasileiros.

Os sementeiros, por sua vez, rebatem as acusações e dizem que a contaminação também pode ocor-rer na própria lavoura, com a utilização de equipamentos alugados, ou mesmo no transporte dos grãos com caminhões que transportaram transgênicos. Dizem ainda que o produtor pode pedir a análise do lote de sementes no ato da compra, o que elimina qualquer responsabilidade das empresas após o início do plantio. No entanto, assumem que o contágio é possível e que alguns casos foram constatados no Brasil nas duas últimas safras.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Monsanto disse que não acha justa a cobrança indevida e que não cobra royalties de quem comprovadamente usou soja convencional. Afirmou ainda que a possibilidade de ocorrer contaminação no campo é muito pequena e que "os testes feitos nos pontos de recebimento da safra de soja (traders, cooperativas) não têm precisão para identificar baixos níveis de soja transgênica em cargas de convencional. Desta forma, o produtor que plantou soja convencional está protegido".

Iwao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), reconheceu que houve casos de contaminação. Mas disse que os indícios aparecem apenas superficialmente e a genética da planta continua dentro das normas previstas pela lei. "Sabemos que a poeira do grão geneticamente modificado pode contaminar o convencional. Por isso, é preciso avaliar se o produtor tomou cuidado no ato da colheita. Caso tenha alugado alguma máquina ou caminhão que transportou grão geneticamente modificado, é possível que o teste acuse positivo", se defendeu.

A assessoria da Perdigão confirmou que foram encontrados traços de transgenia em algumas cargas pontuais entregues por produtores no estado do Paraná. Segundo a companhia, a soja foi devolvida, pois 100% dos animais da empresa são alimentados apenas por grãos convencionais. No entanto, não foi informado o volume das cargas rejeitadas.

Eugênio Bohatch, diretor da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem), afirmou que o processo de produção da semente no estado respeita todas as regras previstas na lei. "Não podemos afirmar que as sementes são as responsáveis pelo contágio. O manejo do produtor também precisa ser observado", afirmou.

Miyamoto, presidente da Abra-sem, disse que a maioria das empresas que trabalham com grãos convencionais e modificados observam o manejo. "Seria correto o agricultor observar a lei e pedir a análise do lote no ato da compra. Depois da manipulação da semente, as empresas estão isentas de qualquer responsabilidade".

Roberto Tenório e Fabiana Batista

Risco de contágio entre lavouras é baixo, mas possível
O pesquisador da Embrapa Soja, Marcelo Fernandes de Oliveira, explica que a contaminação de lavouras de soja convencional por uma lavoura transgênica vizinha é possível. Isso porque, apesar de baixa (1%), a taxa de polinização cruzada da soja por inseto existe. Por isso, a pesquisa orienta um isolamento de 10 metros entre essas lavouras . Ele acrescenta ainda que, normalmente, o produtor sementeiro, também deixa de colher duas a três fileiras da planta para reduzir ainda mais os riscos de mistura, em eventuais casos de polinização cruzada. "Apesar de a ocorrência em soja ser mínima, ela pode acontecer, mesmo que tomados esses s cuidados", esclarece.
O especialista detalha ainda que, de fato, se uma semente transgênica cair em um lote, e este for analisado, o resultado será de contaminação por traços de transgenia. "O mesmo ocorre se uma colheitadeira, por exemplo, não for devidamente limpa". Oliveira esclarece ainda que é preciso alguns cuidados quando uma lavoura transgênica é convertida em convencional na safra seguinte. "A soja tem alguns materiais de semente dura que, às vezes, germina no ano seguinte. Por isso, normalmente o produtor não planta nas primeiras chuvas para esperar se vai haver alguma germinação", acrescenta. Se isso não for feito, continua o pesquisador, é muito provável que depois de crescidas, as plantas não possam ser identificadas e retiradas, ocorrendo, assim, a contaminação.

Fonte: Gazeta Mercantil

 
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