O levantamento da safra de grãos que será divulgado nesta quinta-feira pela Emater/RS-Ascar deve comprovar os danos causados pela estiagem no Estado. Sem chuvas constantes há cerca de um mês produtores de pelo menos 140 municípios fazem as contas para ver o tamanho do prejuízo. Ainda sem falar em números, a diretora técnica da entidade, Águeda Mezomo, antecipou ontem que as metas de produtividade já foram revistas. No caso da soja, cultivada sobretudo nas regiões norte e noroeste, a previsão é de que se perca pelo menos um milhão de toneladas. Em fevereiro a projeção de colheita era de 8,5 milhões de toneladas, mas depois da estiagem o índice começou a ser revisto. O milho cultivado na safrinha também deve ter a produção afetada. Segundo Águeda, as altas temperaturas comprometeram a formação dos grãos na maior parte do Estado. As pastagens, que seriam utilizadas para alimentar o gado nos meses de inverno, já foram perdidas, e o que foi plantado não germinou. A expectativa é de que em maio volte a chover, mas ainda não há projeções de volume, explicou. Com isso, a produção de leite, que já caiu, tende a ficar menor ainda. “As famílias estão usando a silagem prevista para ser consumida nos meses de inverno, pois já não possuem mais pasto verde”, disse. No Vale do Rio Pardo, a situação também piora a cada dia. Em Santa Cruz do Sul o escritório da Emater recebeu na semana passada pelo menos seis pedidos de levantamentos para a busca do Proagro, uma espécie de seguro pago aos agricultores que têm perdas superiores a 30% em suas plantações. Até agora, segundo o técnico agrícola Edmar Segatto, já se perdeu 10% da área de 12 mil hectares plantada na resteva do fumo. Entre março e abril o volume de chuva no município ficou em 9 milímetros, um dos menores já verificados nos últimos meses.
PERDAS As precipitações abaixo do normal só não causaram maiores estragos porque havia umidade no solo em função das chuvas dos primeiros meses do ano. “Mas essa água já foi consumida e a situação se agravou mais ainda”, impressiona-se Segatto. Como no restante do Estado, em Santa Cruz a pastagem está secando rapidamente, assim como as reservas de água das famílias rurais. Nas últimas semanas a Secretaria do Meio Ambiente precisou realizar dezenas de entregas com caminhões-pipa nas regiões mais afetadas pela estiagem. Em São José da Reserva, a agricultora Lourdes Ferreira, 48 anos, está preocupada com a produtividade da lavoura de milho. Os dois hectares cultivados pela família estão secando e as espigas não se desenvolveram como deveriam. “O jeito vai ser cortar tudo e usar as folhas para alimentar o gato”, lamenta. Ela, que tem um rebanho com 50 cabeças, calcula que a produção de leite tenha caído pela metade depois da estiagem. “Com o preço que pagam pelo litro não dá nem para comprar a ração”, avalia.
A filha de Lourdes, Simone, também contabiliza perdas na agricultura. Moradora de Arroio dos Couto, a jovem prevê a antecipação do uso da silagem preparada para os meses mais frios por falta de pastagem. “A terra está seca e impede a brotação da sementes. Precisamos de chuva com urgência”, pediu.
Busca por seguro aumenta O Proagro, pago para quem tem perdas na agricultura, se tornou a única alternativa para os agricultores depois da estiagem. A Emater de Santa Cruz vem fazendo os levantamentos para identificar a proporção dos estragos. O benefício do governo é destinado para quem perdeu pelo menos 30% da plantação.
De acordo com o técnico Edmar Segatto, todas as famílias que receberam financiamento do Pronaf podem acessar o benefício desde que se enquadrem em alguns critérios, como confirmação dos estragos e das despesas com a produção. Além de avaliar a proporção das perdas os técnicos exigem as notas com insumos para calcular o valor do benefício a ser pago. Também é necessário apresentar um croqui da propriedade indicando o local exato da lavoura. Quando a perda é total o Proagro cobre o valor integral da lavoura e ainda oferece um bônus ao agricultor.