O aumento na oferta mundial de trigo e a valorização do dólar devem fazer com que os Estados Unidos tenham a menor participação nas vendas internacionais dessa commodity dos últimos 50 anos. Até o ano passado, o país era considerado o maior exportador mundial da commodity, posição que deverá ser ocupada por países da ex-União Soviética, cujos maiores produtores são Rússia e Ucrânia. A valorização da moeda americana no cenário internacional, dizem analistas, aumenta o custo de importação para os países compradores. Estes, por sua vez, em busca de melhores preços, optam por países onde o ônus cambial seja menor.
A expectativa é que, os Estados Unidos, maior exportador mundial de trigo, sejam responsáveis por 21% do total das vendas mundiais do grão no ano-safra a encerrar-se neste mês de maio. Trata-se da participação mais baixa no mercado internacional desde que o Departamento de Agricultura dos EUA (Usda, pelas iniciais em inglês) começou a monitorar esses dados, em 1960. O pico foi de 50% em 1974. O Usda estima que a produção norte-americana corresponderá a 9,9% da safra mundial, a menor parcela desde 2004. "Com o leque de opções mais amplo, a safra americana fica relegada à segundo plano. Principalmente por causa da maior produção na Rússia", destacou Élcio Bento, da Safras & Mercado. Ele afirma que a expectativa sobre as exportações de trigo da Rússia e Ucrânia saltaram 40% neste ano, para 32 milhões de toneladas. Nos EUA, por sua vez, houve queda de 20% nas vendas externas, para 27 milhões de toneladas. "O trigo americano está menos competitivo. Isso deve aumentar a oferta interna e favorecer cotações baixas", completa Bento. "O aumento da produção mundial de trigo fez com que alguns importadores voltassem os olhos para outros países além dos Estados Unidos", disse Jason Britt, presidente da Central States Commodities Inc., do Missouri. "Agora, fatores como o dólar forte ou fraco e os custos de embarque influem na decisão sobre quem obterá o negócio, uma vez que a oferta aumentou." A recessão também contribui para perspectivas negativas na demanda e nos preços dos grãos, justamente quando produtores americanos se preparam para colher safras de trigo de inverno, este mês. Os contratos futuros de trigo, que já caíram 6,7% este ano, deverão recuar mais 21%, para US$ 4,50 o bushel, até o final do ano, disse Mike Zuzolo, analista-chefe da Risk Management Commodities Inc.. Até o final do ano-safra, no próximo dia 31, a Rússia deverá exportar 16,5 milhões de toneladas, volume 35% maior que o do ano anterior, e as remessas da Ucrânia vão disparar para 11 milhões de toneladas, em relação ao 1,24 milhão de toneladas do ano de comercialização passado, estima o Usda.